livro de areia - reloaded

mais vale um caralho de asas na mão do que dois voando

30.10.02



bate-boca no corredor

como disse num dos post abaixo, fiz a experiência de afixar um cartaz do lula na porta do meu apartamento, poucos dias antes da eleição. em pouco tempo, foi pichado, depois rasgado, aqui e ali. no dia 28, sob a ressaca da vitória, coloquei uma mensagem sobre o cartaz, uma estrelinha do pt, sobre a qual se lia: não adianta pichar ou rasgar: o presidente está eleito, com 52.792.885 votos. o país é de todos, e a mudança só virá com a cooperação de cada um. vandalismo não é para quem quer um país sério. a moradora agradece. em algumas horas, apenas, ela foi rasgada. colei. quando cheguei ontem á noite, ela tinha sido reduzida a pedacinhos. tudo super-previsível.

sempre tive enorme preguiça de me relacionar com vizinhos, aquelas pessoas normalmente meio obtusas que você não escolheu para morar quase dentro da sua casa. aqui, temos até alguns vizinhos adoráveis, como o pessoal do apartamento em frente, um terapeuta jungiano gente fina e sua esposa. aliás, um prédio que adota o rex não pode ser dos piores. mas, enfim, tenho enorme preguiça de dialogar com vizinhos, em geral, e para encerrar esta discussão ridícula, retirei o cartaz e afixei a nota acima, bem pequenininha, uma bandeirinha do brasil, só para deixar claro que o buraco é mais embaixo, a questão é supra-partidária. retiro amanhã, se a nota não for destruída antes, o que, tenho certeza, será.

ps: acabei de flagrar, através do olho mágico, uma moradora lendo a nota. como meu computador fica do lado da porta, ouço a movimentação de quem entra e sai do prédio. ela estava subindo, destraída, viu a nota e parou. eu, olhando pelo olho mágico, querendo flagrar o "amigo detrator do patrimônio alheio". ela leu, sorriu, balançou a cabeça em aprovação e subiu. confesso que fiquei feliz. parece ser algo completamente idiota, se dar o trabalho de dialogar com um beócio intolerante, talvez seja mesmo. mas é de coisas pequenas assim que se faz uma cultural. acho.




cnpq mega agency desfinanciator tabajara: numa pós-graduação bem perto de você

basta de perder tempo escrevendo aquela dissertação inútil que ninguém vai ler! agora você pode ter 3 meses do seu prazo final aviltantemente usurpados com o CNPq MEGA AGENCY DESFINANCIATOR TABAJARA, o único que lança regras arbitrárias, retroativas e terroristas a poucos meses da sua data de conclusão!

longos 4 meses pela frente para entregar sua dissertação? seus problemas acabaram! com o CNPq MEGA AGENCY DESFINANCIATOR TABAJARA você poder requentar seu trabalho de conclusão de curso na graduação, e deixar de lado todo aquele esforço desnecessário para realmente escrever alguma coisa nova, útil e profunda! não desperdice sua vida diante de livros: adquira compulsoriamente você também o CNPq MEGA AGENCY DESFINANCIATOR TABAJARA e passe o carnaval onde você quiser!

CNPq MEGA AGENCY DESFINANCIATOR TABAJARA. porque pós-graduação é pra quem tem chifre!

rex (ou: em nome do ibope)

estamos praticamente acostumados com o rex. ele está bem, fizeram uma vaquinha e deram banho no bichinho, levaram ao veterinário, deram vacinas. meu coração dog-lover não entende como é que abandonam um cachorro tão bonitinho, tão mansinho. o rex é um doce! por algum motivo, ele escolheu minha vaga para morar, e acho que não entendeu ainda os perigos trazidos pelos automóveis, uma vez que, quando ele está na frente do carro ou parado na minha vaga quando chego, tenho, praticamente, que sair do carro e tirá-lo dali. ele, achando que é brincadeira, vem todo serelepe pular em cima de mim. uma delícia! o que dá dó mesmo é ver o bichinho dormindo sozinho toda noite. acho que ele não está acostumado, não entende bem o que está acontecendo. mas, como um cão mansinho, capitula, e dorme nas escadas do térreo (que minha vaga fica ocupada pelo carro, o que sobre, ao relento).

vou abrir uma campanha dôe uma casinha para o rex. quem topa?


29.10.02

e agora? (ou: o brasil é o país do presente)

um professor meu de colégio, de geografia, dizia que o pt era que nem aqueles cachorros doidos que correm atrás de carros: se o carro parar, eles não sabem o que fazer. talvez tenha sido assim; hoje, tem algo maior acontecendo: nós, os brasileiros, conseguimos o que até eu achava impossível, uma transição democrática, a esquerda no poder, um presidente ex-retirante. isto, em si, é um fato histórico, digno de comemoração. mas, passada a euforia da eleição, fica a pergunta: e agora?

agora, como já falei, é construir um novo país, e isto não é pouca coisa. nós escolhemos o presidente, então, a responsabilidade é nossa. de todo mundo. o país do futebol era (é?) também o do "quanto pior, melhor", o do "farinha pouca, meu pirão primeiro". mas o sensacional -e assustador- da democracia é que nada é para sempre. não é que o pt chegou à presidência da república e a gente pode voltar a esperar o carnaval. não. a gente deu um salto, provou -está provando- um grau de amadurecimento que só traz mais responsabilidades, mais compromissos.

como dizia meu pai, "para quem não sabe aonde quer ir, não adianta vento a favor". num país de eterna oposição, mais fácil é agir cariocamente*: reclamar, tomar chopp e fazer uma passeata depois, quanto não tiver mais jeito. e reclamar e tomar chopp, novamente, claro. afinal, a culpa é, sempre, deles: do governo, dos banqueiros, dos bandidos, dos corruptos. o desafio de ter um governo do pt, de um ex-retirante, escolhido por nós, é não mais poder botar a culpa neles, vendo a banda passar, tomando chopp, discutindo poeminhazinho sobre o meu coraçãozinho. sim, porque, num sistema democrático, mesmo quando o outro candidato é eleito, a responsabilidade é de todos os que votaram, que concordaram jogar o jogo da eleição direta, com todas as possibilidade abertas. e se isto, neste país cheio de ciclos políticos pouco democráticos, parece um conceito novíssimo -e, de certo modo, o é- é apenas porque nunca antes um presidente com uma posição radicalmente diferente e que veio da classe realmente trabalhadora havia chegado sequer perto do poder, muito menos diretamente, muito menos com 52.792.855 votos.

alguns dias antes da eleição, coloquei um cartaz do lula na porta do meu apartamento. sabia o risco que corria e -batata!-, dois dias depois, ele já estava riscado. depois, rasgado, aqui e ali. com a eleição, resolvi não deixar pra lá, e coloquei uma mensagem sobre o cartaz (ou o que restou dele): não adianta pichar ou rasgar: o presidente está eleito, com 52.792.885 votos. o país é de todos, e a mudança só virá com a cooperação de cada um. vandalismo não é para quem quer um país sério. a moradora agradece. recorde: em menos de 12 horas, a nota foi rasgada ao meio. recebi os cumprimentos de um morador, é verdade, pela "boa resposta", mas acho que foi uma resposta meio metida, ainda sob a ressaca da eleição. é possível, provável até, que os vândalos sejam adolescentes idiotas, sem nem mesmo qualquer convicção política, por mais débil. talvez nem votem, nem mesmo no serra. não importa, queria apenas era falar, dizer alguma coisa. a fala contra o silêncio emburrecedor.

tem uma sensação que está começando a me preencher e que, como sensação, eu ainda não sei explicar. mas faz sentido, sim, e muito. é poder, um passo além da potência. eu não sou política e, até certo ponto, não quero ser. sempre tive inclinações, mas, como típica ferreira gomes, o temperamento não colabora. me angustiava com uma certa contradição -desnecessária- entre arte e política. no rio e em sp, sobretudo, meus amigos artistas, de modo geral, eram os mais alienados do mundo; meus amigos da política tinham um suspeito gosto pela arte engajada que me arrepiava os cabelos. como disse, a contradição é desnecessária. mesmo que o mercadante seja a única materialização da ética e da estética que eu conheço, as duas podem, devem e, de fato, andam juntas, nos melhores casos. daí porque filmes tão aparentemente apolíticos podem promover discussões éticas mais proveitosas do que a melhor reunião de partido. o maiakovski -acho- dizia que não há conteúdo revolucionário, sem forma revolucionária. básico! no nosso caso, talvez o buraco seja mais embaixo: não há mudança maior, sem mudança menor. ou, como disse o já-elevado-à-categoria-de-quase-filósofo duda mendonça: se você não mudar, o brasil também não muda.

o que estamos presenciando -mesmo quando alguns preferem ignorar- é um momento absolutamente inédito nos pelo menos 502 anos de história deste nosso país do futuro: o presente pelo qual lutamos, finalmente, tem chances de acontecer. mérito de todos os que participaram, mesmo os menos convictos. quem, como eu, ainda tem dificuldades de acreditar quando vê o lula como presidente eleito, na televisão, fazendo pronunciamento no púlpito, no planalto, anunciando o coordenador da equipe de transição, deve estar começando a entender que este presente é pululante, inebriante. não é preciso correr e se unir aos partidos, a diversidade, mais do que nunca, é importante. o que é preciso, urgente, é entender que,

depois do fato histórico é que vem a História. e você faz parte dela, mesmo que não queira.



(se uma única pessoa ler isto aqui, vou ficar pasma.)

*cariocamente, segundo o jabor. leia o artigo no link do post abaixo.


28.10.02

o dia em que o rio de janeiro se suicidou

o estado do rio deu a luiz inácio o maior percentual de votos, é preciso que se diga, antes de mais nada. contudo, no primeiro turno, o desempenho dos fluminenses foi vergonhoso: não apenas elegeram a mentiRosinha no primeiro turno, como também elegeram alguns outros beócios para o legislativo.

eu amo o rio (e como não amá-lo?), morei lá mais de 1 ano. amava muito mais, contudo. em um ano morando lá, comecei a sentir o que o jabor descreve no artigo, brilihantemente (e é por isto, entre outras coisas, que ele escreve no globo e eu no blog): essa alienação pseudo-charmosa, com a desculpa de terem tudo aquilo que Deus lhes deu. samba, futebol e passeatas pelas paz, seguidas de um chopinho, ok. política? dá pra tomar um chopp ao invés? é por isso que o caetano prefere o rio e odeia são paulo.

tá, são paulo também não é perfeita, de jeito nenhum. e as coisas não são assim, ou boas ou ruins. mas são paulo nos deu o PT e isto não é pouca coisa. tá na hora de ox cariocax se ligarem, pararem de pensar na rede globo e pensarem o país. ou num vai, não, brother...

(ps: o artigo do jabor eu achei aqui.)


a importância da eleição de lula. texto do namorado, para os integrantes do seminário internacional sobre gestão de recursos hídricos, que acontece no méxico, neste momento, do qual ele faz parte. ai... ele não é o máximo?




o nosso brado retumbante: o dia em que a esperança venceu o medo

eu não conseguia acreditar no que estava acontecendo: ali, bem diante dos meus olhos, entre uma cabeça e outra, uma bandeira e outra, luiz inácio lula da silva, presidente eleito do brasil, dando a uma multidão de 50 mil pessoas -ou 175 milhões- a esperança de um país justo. contive o choro até o fim do discurso, quando, sob uma salva de fogos nos céus da paulista, os 50 mil -ou 175 milhões- cantaram o hino nacional em brados retumbantes. mão direita do lado esquerdo do peito, mão esquerda para o alto, L de lula com os dedos, muita, muita gente. chorei. compulsivamente. de felicidade, de esperança, mas também de orgulho pela vitória, pelo grito preso no peito há 13, 22, 502 anos. nunca cantei o hino tão alto, nunca o achei tão lindo. já nem enxergava mais o lula, mas o mais importante não dava para não ver: a esperança e a vontade de um país melhor estampada no rosto, nos gestos, na atitude dos 50 mil -ou 175 milhões- ao meu redor. quando comecei a chorar, fui abraçada por vários. amigos, mas também desconhecidos completos. uma senhora, me abraçando e enxugando as próprias lágrimas, reiterou nossas esperanças de mudança. uns meninos ao meu lado disseram, "chora não, agora tudo vai dar certo". outra menina, me vendo, disse para a outra, me abraçando, "olha, ela se emocionou".

para alguém como eu, que era muito nova durante as diretas já, e que estava fora do país no fora collor, foi o momento mais emocionante de comoção popular. algo lindo, que vai ficar marcado na minha memória para sempre. quando tento relembrar, vêm fragmentos -a experiência é múltipla, apenas o relato é linear: os sorrisos, os abraços, as vozes cantando olê olê olê olá, lulaaaa, lulaaaa, o mar de bandeiras abanando, luiz inácio, presidente eleito, reiterando compromissos tão necessários para a felicidade e justiça neste país, a interação popular com o discurso, o hino, as estrelinhas coloridas caindo do céu, o helicóptero lá em cima, nos dando a certeza de que aquele era um momento histórico...

num país como o brasil, rico, diverso, encantador, mas onde impera a injustiça há mais de 500 anos, apenas com a participação de cada um, há a possibilidade de mudança. apenas com cada um se sentindo responsável pelo bem estar dos outros 175 milhões, é possível governar com ética e responsabilidade. é algo muito mais difícil do que mover quase 53 milhões para escolher um representante da mudança, e outros 50 mil para uma comemoração, porque não é um processo catártico, em que se possa enxergar o momento do clímax, do agora posso relaxar. mas o país que a gente quer esteve ontem na paulista, naquela multidão: absolutamente pacífico, solidário, ético e cidadão. deu para começar a acreditar na mudança. agora, é construir um novo país.




52.792.865 de eleitores põem um trabalhador no poder. feliz aniversário, lula! agora, é contruir um novo país.


26.10.02




25.10.02




show de bola! vai lá, baiana, eu garanto!
(colado deste moço)


intolerância

notícias do méxico. entre outras coisas, relato da mais absoluta e vil intolerância, sem falar na enorme subserviência ao império de júnior. a delegação paquistanesa, que ia para o seminário no qual o namorado está, e que tinha obtido visto para entrar no méxico, foi toda deportada, sem maiores explicações. humilhados, tratados como criminosos, apenas por serem paquistaneses, sendo que estava ali, com visto previamente concedido pelo méxico, para participar de um seminário internacional e discutir a gestão de recursos hídricos mundiais, evento promovido por uma entidade finaciada pela fundação rockefeller. parte da delegação indonésia -todos os homens- também foi deportada, e a delegação chinesa esperou 23 horas para poder sair da imigração. a delegação brasileira, que não precisou de visto, teve concedidos 15 dias de permanência no méxico, sendo que parte havia previsto estada de 30 dias.

a gente ouve falar dessas coisas pelo jornal, mas quando se sabe assim, via depoimento de alguém real, menos abstrato do que os relatos das agências internacionais, é chocante. sabe-se que há centenas de pessoas presas, arbitrariamente, na terra do júnior, apenas por terem "cara de terrorista". o namorado já havia me relatado a experiência de um dos brasileiros, barrado num vôo da continental airlines por sua aparência árabe. que o júnior é um beócio elevado ao poder por um conluio petrolífico através de uma eleição fraudada, todo mundo já sabia. mas se alguém duvidava que ele vai levar este mundo à total desgraça, podem começar a acreditar.

meus amigos, me parece que este momento é único. enquanto a maior potência deste mundo, governada por um canalha veramente rodrigueano, faz merdas enormes em escala mundial, nosso humilde país do futuro tem a oportunidade de mostrar para o mundo que o buraco é mais embaixo. no mínimo, podemos começar a estabelecer, para a américa latina, um mínimo de soberania, coisa que o méxico, por exemplo, parece não ter, e para o país do júnior, o exemplo de democracia numa eleição justa, sem fraude. é um momento histórico e engana-se quem acha que se trata apenas de uma eleição. é hora de discutir, muito seriamente, os valores. do brasil, da américa e do mundo. e tudo está apenas começando. a partir do dia 28, como disse o namorado, chega a hora de construir um país, diariamente, nas menores coisas.

creio nisto. muito. e que o júnior, em bom português, vá se foder.


24.10.02




larga o osso, serra!!!


justiça censura edição de hoje do correio braziliense

isso, sim, é de dar MEDO!




ai, ai...




o TT se supera...


lula lá. lá em fortaleza, com outras 100 mil pessoas

mini-comício + caminhada sob o sol de rachar do centro de fortaleza. o tucanato fez de tudo para impedir a ida do companheiro, mas ele acabou indo. e agora, pode ser que seja mesmo lula-lá, zé airton cá (ou lá, no ceará).


23.10.02

rex - parte 2

o rex é o cachorro do prédio. ele foi abandonado por sua antiga dona e as meninas do 15 o adotaram. aparentemente, contudo, elas não podem adotá-lo realmente, então, ele foi adotado pelo prédio inteiro. não mora na casa de ninguém, mora na garagem. tem duas véias chatas que são contra, o resto do prédio é a favor. uns dão ração, outros, xampu. a vizinha que diz que "não basta ser médica, tem que ser veterinária" vai cuidar da saúde do bichinho. ele ainda dorme ao relento, mas parece conformado com isto. no futuro, quem sabe, fazemos uma casinha para ele lá embaixo, na garagem.


As Sem-Razões do Amor

Eu te amo porque te amo,
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.


Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.


Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.


Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.

(cda)

desânimo

(tamanho, que nem muita vontade de escrever há)


22.10.02



só um lembrete


21.10.02

rex

deve ser uma visão. tem um cachorro dormindo na garagem do prédio. estava lá quando saí e continua lá. rex, diz na coleira. não sei que raça é aquela, parece um labrador, só que menor e malhado. mansinho, mansinho. parece conformado com a situação. não sei quem o deixou lá, nem como ou por quê, mas uma coisa é certa: se o tiverem abandonado, eu vou ter que fazer alguma coisa.


20.10.02



domingo

domingo passado: acordar junto. o calor de fortaleza, do apartamento que dá para o Lado do Sol, fazendo os dois corpos, abraçados, grudarem. tomar café: pão, queijo, aveia, iogurte, café. preto, para mim, com leite, para ele. conversa jogada fora, despretenciosa. não há agenda a cumprir. praia, longe. sem pressa de chegar ou de sair. peixe frito e baião de dois, longas conversas sobre cinema, sobre minha dissertação, sobre contextos históricos. pé n'areia, vento no rosto. nenhuma foto: preguiça. voltar para casa. antes, alugar vídeo, comprar sorvete, coca-cola, pizza. homem aranha e antes do anoitecer, um atrás do outro, que a globo preferiu passar a xuxa reclamando da vida ao jogo de vôlei do brasil. dormir, abraçado, calor equatorial e corpos grudados.

hoje: acordar. dia bonito em são paulo. meu computador, minha casa, minha tevê, meu som. ouvir os cds que ganhei: caetano, muitos carnavais; toninho horta, from ton to tom. música e livro são até melhores quando dados. por quem conhece seu gosto, bem entendido. piaba, piaba... vai sempre me lembrar o amigo que me deu o disco, muito antes d'ele dar o disco: batucando na mesa de bar em que comíamos piabas fritas, entre uma piaba e outra, piaaaaaba, piaba... spaghetti no fogo, um pesto sobrevivente e parmesão de pacote o aguardam. salgado demais. coca-cola, sempre (oops, é o slogan...), e em grandes quantidades. meu roomate que me desculpe, mais uma vez, ataco o único chocolate da casa, o dele. um documentário sobre o amir klink me faz pensar sobre os homens, as ilhas, os projetos pessoais e a cumplicidade (dramático, parnasiano e nada in ser levada a refletir por um documentário sobre o amir klink...) programa para a noite: mostra. se é para estar em são paulo, que seja por uma boa causa: cinema, amigos, minha casa.


a ilha

todo homem é uma ilha. todo homem. não sei por quê, as mulheres tendem a não ser ilhas. mesmo as que não têm como projeto de vida supremo marido-filhos-samambaias. como eu. confesso, é frustante a constatação, que é diária e nas mínimas coisas. sobretudo porque tendo a buscar, justamente, as mais remotas ilhas. tem alguma coisa sobre o uso do pronome eu, em detrimento do nós, que fere. e, como disse, não defendo a Família acima de todas as coisas. mas tem algo que eu descobri depois desses 4 anos: eu não sou, não quero ser e não conseguiria, se quisesse, ser uma ilha. a solidão me arrasa, completamente. e o oposto de solidão é cumplicidade, que é algo muito mais difícil de conseguir do que companhia, simplesmente. porque cumplicidade, por definição, é algo mútuo, se um não quer, dois não têm. daí, o desafio: conseguir a cumplicidade de quem é, por natureza, uma ilha.

vôos mais altos

as viagens são longas e cansativas, que é para você a-do-rar estar chegando seja lá onde for. (o grilo falante cochicha que é demais pra cabeça dele alguém reclamar da oportunidade de ir e vir entre fortaleza e são paulo, de avião, pelos melhores motivos. não é isso, grilo: amém, amém posso ir-e-vir. mas cansa.) o foda de viver num país como o brasil e não ser completamente alienada é se sentir culpada por problemas como este. o grilo falante sempre me lembra que há coisas bem piores, mas isto não impede que eu me sinta cansada com todo esse nomadismo. me sinto, às vezes, como num jogo de twister: pé em são paulo, cabeça em fortaleza, coração na cidade do méxico... e, às vezes, pior: corpo aqui, cabeça sei-lá-onde!

mas tudo bem, de tão cansada, adorei chegar. pior do que o nomadismo seria não ter esta adorável casa, estes adoráveis amigos. talvez mais um ciclo esteja se encerrando, como diria a encarnação atual de nelson, a amiga rodrigueana, de quem, cada vez tenho mais certeza, fui separada no berço (o que, aliás, é muito estranho, dados os 2 anos e uns quebrados que separam nossos berços). talvez não seja um jogo de twister, mas um daqueles em que você tem que pular de ciclo em ciclo, sem cair, entendendo a velocidade, a rotação e tudo mais que pode te levar aonde você quer ir (talvez este jogo só exista na minha cabeça). isto é: se você souber onde quer ir...


19.10.02

eu tenho medo de pessoas que se utilizam de sua fama para fazer terrorismo, de atrizes dondocas que chamam TERRORISMO de "livre expressão". dona regina duarte, dona beatriz segall: a ilha de caras não é um país!

17.10.02



barba, cabelo e bigode: rodrigo amarante, definitivamente, é o meu número. depois que vi (ainda que na tevê) a orquestra imperial, eita!


eu tenho muita mêda de gente como a dona regina duarte...


... que, de tanto fazer papéis inverossímeis em novelas fantasiosas, esqueceu de vez o que é a realidade.

sem mais comentários, que é ridículo demais.


14.10.02



da série mistérios do cinema brasileiro: os descaminhos da genética

e já que o tema de hoje é essa categoria tão suis generis de filmes locais com um quê de universais, mais perguntas que atormentam a alma: que experiência transgênica pode fazer com que o cruzamento de othon bastos e cássia kiss resulte justamente no rodrigo santoro??? e zé dumont com rita assemany, então???... se é assim, eu sou a favor dos transgênicos!




gênero: filme estrangeiro

não chega a ser um fenômeno novo, se você for prestar atenção: desde, no mínimo, o pagador de promessas e o cangaceiro, existe uma categoria de filmes feitos sob (diversas, polêmicas, discutíveis) medidas para agradar um certo gosto atribuído a entidades abstratas como O Público, O Mercado Internacional ou Os Festivais. não vou falar de cidade de deus, mas do filme que vi, em vídeo, ontem: antes do anoitecer, do novaiorquino julian schnabel, que também fez basquiat.

como achei o filme legalzinho, eu só quero deixar duas perguntas para a massa infinita de leitores deste humilde veículo, sobre essa categoria internacional de cinema: 1) por que tá todo mundo suado o tempo todo nesses filmes estrangeiros? 2) por que esses americanos acham tão natural um filme passado em cuba ser falado em inglês, com sotaqueS espanhóIS (de cubano, argentino, catalão, porto-riquenho e americanos legítimos inventando um sotaque tão fiel quanto o da bahia das novelas da globo), sendo que de vez em quando os personagens se tacam a falar em sua língua nativa, como se nada estivesse acontecendo? e justamente um filme na cuba pós-revolucionária (só faltava o fidel também falar inglês no filme...)

neste sentido, nossos filmes estrangeiros são menos estrangeiros que os dos outros, pois até o pessoal do abril globalizado ainda fala o bom e velho português, mesmo sendo difícil localizar a origem de alguns sotaques (tudo bem, agora eu tô sendo chata, mas é a minha função, eu já acostumei e às vezes até acho legal...)

perguntas que atormentam a alma...


propaganda enganosa

diálogo entre pai de um amigo meu e sua empregada:

-... não, seu fulano, o número do serra é treze, entendeu? trê-zê!...
-ah...,
responde o pai do meu amigo, que tem uma certa dificuldade cognitiva. resta saber se funcionou (muito embora até eu tenha que desaprovar essa tática...)


10.10.02

(por motivos técnicos, a tirinha sarcástica que estava aqui foi retirada. é que estou num Péssimo Computador com recursos limitados. visite o site do sujeito para garantida diversão. sorry.)

show de bola. tem mais no site do sujeito. nada como um humorzinho acidamente sarcástico para levantar a moral da gente...

(peguei no tiago teixeira)

para ouvir a voz de carlos (que, alguns dias, só carlos salva).


sossegue, renata, a vida é isso que você está vendo: hoje beija, amanhã não beija, depois (de depois) de amanhã é domingo e segunda-feira ninguém sabe o que será.

(cda, levemente deturpado por moi)


9.10.02



fradim no mundo perfeito

a querida editora do mundo perfeito teve a maravilhosa idéia de trazer o fradim ao mundo digital, para que as novas gerações possam, também, ter uma enorme dívida com o humor inteligentíssimo e -meio infelizmente- ainda bastante apropriado do henfil.

bravo! bravo! bravo!!!


8.10.02



oops! 41 mil votos negativos para lula

para a informação de todos: um tilt no software de contagem de votos fez com que, misteriosamente, por um breve período, os votos para o candidato luiz inácio lula da silva -coincidentemente este e nenhum outro- fossem subtraídos em vez de somados, numa função tal que, em dado momento, eram cerca de mil votos negativos. ou seja, de acordo com o software, 41 mil eleitores haviam desvotado em lula. peculiar, não?

a contagem foi paralisada por alguns minutos, o tilt foi corrigido, e tudo seguiu direitinho até os 46% de lula e os 23% de serra, também muito coincidentemente 3% a menos para um e a mais para outro do que apontavam as pesquisas, inclusive as de boca-de-urna, que sempre tenderam a ser bastante precisas.

quem não acredita nesta lulista tendenciosa, leia isto, escrito na folha de hoje pelo seríssimo jornalista jânio de freitas.

como boa parte das pessoas que votaram em lula, eu saí da eleição com uma pulga atrás da orelha. só fui saber desse tilt hoje. estou atônita, é coincidência demais. não que eu tivesse certeza da vitória do primeiro turno, mas 3% a menos para o lula e a mais para o serra, assim, de repente, é muito esquisito. levando em consideração a prepotência do presidente do TSE, que, também por coincidência, é padrinho de casamento do candidato que passou para o segundo turno com surpreendentes 3% a mais do que todas as pesquisas, não acho que ninguém vá prestar atenção.

as suposições sobre fraude são minhas -e de vários outros- mas não do jornalista. contudo, concordo com ele no ponto central: a legitimidade do processo está seriamente questionada.


muito sol na cabeça...

depois o caetano veloso e a regina casé querem falar mal de são paulo... mas quem foi que elegeu rosinha no primeiro turno e re-elegeu ACM? enquanto fluminenses e baianos teclavam errado, os conservadores paulistanos elegiam aloísio mercadante e colocavam genuíno no segundo turno, botando paulo maluf para correr com o rabinho entre as pernas. tudo bem, a eleição do PRONA foi de lascar, mas ainda mandamos bem (vai ver que foram os emigrantes baianos e cariocas que deram um milhão de votos ao enéas, hahaha! ok, ok, tô brincando.)


7.10.02




bota esta estrela no peito: hoje é dia de comemoração

não ganhei meu presente. ainda. mas ganhei outros: mercadante, senador mais votado do país e genuíno no segundo turno, mandando maluf pastar; joão alfredo (100 mil votos), luiziane lins (50 mil) e inácio arruda (300 mil votos!!!) e os outros da coligação no ceará; zé aírton no segundo turno contra o candidato de tasso, na casa de tasso; 10 senadores no brasil inteiro; vitória no primeiro turno no acre; boas chances em tantos outros lugares e, claro:

46% de eleitores acreditando em LULA PRESIDENTE, a gente indo, pela primeira vez na história do brasil, para o segundo turno em franca vantagem, com o dobro de votos do segundo colocado!!!



não é pouca coisa, por isso, é importante não deixar esmorecer. (esmorece, não, caboco véi, esmoce, não, caboco véi!...) o importante é passar os próximos 20 dias com um bottom, adesivo, camisa, sorriso e grito de lula na gente. e pensar em como melhorar o país, que só essa cruzada democrática já foi importante para neguinho ver que, ao contrário do que parece, o brasileiro não é mané, não (menos os cariocas, alô, torcida do flamengo, rosinha no primeiro turno??? falaséeeeerio!...)

AGORA É LULA!!!


6.10.02

boca de urna

fortaleza, 5 de outubro de 2002
caralhodeasasvoador!!! nunca vi algo assim! parecia final de copa do mundo! em meu pequeno trajeto, contei 15 esquinas: gente, muita gente aglomerada, com camisas, bandeiras, adesivos, panfletos, música, gritos de agora é lula! não era militância, e isto é que era sensacional. era o mesmo povo brasileiro que se organiza para comemorar vitória do brasil em copa do mundo: desorganizado, aos borbotões, inconstante, porém, ESPONTÂNEO. fiquei puta por não estar com minha câmera em punhos (que jornalista fuleiragem que eu sou). às 10h30 da noite, fortaleza, em alguns lugares, estava engarrafada (e, muito embora os paulistanos achem isto perfeitamente normal, em fortaleza, não é).

foi uma das coisas mais lindas que eu vi. sintomaticamente, não havia nenhuma aglomeração cirista. ou serrista. ou infantil (para o garotinho). nem para os outros candidatos locais que não fossem do PT ou da coligação. se apenas toda essa convulsão de clima de copa do mundo se traduzisse em movimentação para um pacto social, eu começaria a acreditar, feliz, que este país está realmente mudando.

hoje à noite, talvez comece a acreditar nisso.

AGORA É LULA!!!


3.10.02

da série eu pagaria caro e em dólar para me perder numa ilha deserta com ele: moreno veloso

(seria auto-explicativo se eu tivesse conseguido achar uma foto da beldade. infelizmente, o google é mau. então, fica o meu atestado de homi-bom para o herdeiro mais velho do clã dos caetano pré-lavignes -que era bem melhor).


quote of the day:

se os médicos insistirem, consultem os sintomas

(na total falta de inspiração, citar tom zé ajuda)




e eu que achava que a metamorfose se passava apenas na minha cabeça... aparentemente, mais alguém percebeu...


1.10.02

faltam 5 dias para o meu aniversário, no dia 6 de outubro. sabe o que eu quero de presente?