livro de areia - reloaded

mais vale um caralho de asas na mão do que dois voando

31.1.03

feijão maravilha

era justamente daquilo que eu precisava: uma incursão pelos outros bairros da cidade, em busca do melhor feijão com nata do universo, acompanhado de uma cerveja gelada e, o que é mais importante, essencial, uma mesa de amigos sensacionais. a saber: os dois (eternos) orientadores, cada vez mais multi-disciplinares, o amigo performático bolsista da vitae, tropeço, princess balla, a única, minha amiga aglutinadora de amigos e lucicleiton, o artilheiro da pelada.

só uma mesa dessas consegue ter a diversidade temática da nossa conversa ontem: da semiótica do urbano à descrição de preferências sexuais, com detalhes. neste tópico, é bom que se diga, conseguimos expulsar a mesa ao lado, de moçoilas inocentes (bem doida: um bando de gato-véi), horrorizadas com nosso desprendimento. há muito não ria tanto.

uma mesa de amigos íntimos como esta acabou me proporcionando o momento mais ridículo da noite (e de muitos tempos): quando minha vida íntima virou tema de discussão acalorada na mesa inteira. eu estava compartilhando algumas cositas com meu (eterno) orientador e a mesa, no espírito filosofia-de-botequim, se meteu no meio e começou a dar pitaco na história. em coisa de 15 segundos, já havia um arranca-rabo sobre quem-tinha-feito-o-quê-pra-quem-e-comigo-foi-assim, quando eu me dei conta do que estava acontecendo e encerrei a discussão com um berro. era só o que me faltava!

voltei a compartilhar minha mais-ou-menos intimidade apenas com meu (eterno) orientador, de quem eu ouvi alguns relatos sobre a própria vida afetiva (que, creiam, é longa e versátil). uma conclusão óbvia: meu Deus, como tenho a cabeça no lugar! o (eterno) orientador descreveu seus surtos pós-fim de relação e minha vida, de repente, soou um tédio. aliás, nos 15 segundos de forum que rolou na mesa, os loucos eram da opinião de que eu tinha que chutar o balde, me acabar, ir até o fundo do poço. o amigo performático foi categórico: -mulher, corta os pulsos, corta os pulsos! aí, a gente te leva pro hospital, tu fica acabada por uns dias, mas depois que se curar, fica tudo bem!

felizmente, o forum só durou alguns segundos e eu pude voltar a gostar da conversa na mesa, me dividindo entre os relatos do outro (eterno) orientador sobre a mediunidade de patativa do assaré, o projeto de etnografia do amigo performático, os planos para a cultura do estado, reminiscências de bebedeiras e lombras tortas (muito) engraçadas, uma ou outra opinião sobre a vida alheia, projetos para uma festa de despedida para mim, com ou sem mim, é bom que se diga, e, claro, o já referido sexo.

entre a invasão da minha privacidade e o resto, foi uma noite emblemática. serviu para me relembrar do quê, mesmo, é feita a minha vida: de amigos diversos e maravilhosos: dois ex-professores espetaculares, que me inspiraram muitíssimo nos caminhos que segui e ainda inspiram, que se tornaram bons amigos, referências masculinas fortes neste mundo-doido; um ex-roomate brilhante e de uma energia positiva maravilhosa, com quem tenho muito mais cumplicidade do que é possível identificar; uma amiga de faculdade com quem minha relação merece ficar muito melhor, por ser, de fato, alguém muito especial; uma aquisição recente, cearense-paulistana, que, quando eu vi, já tinha cruzado a barreira que eu ergo para me protejer do mundo e se provou alguém que, com seu jeito absolutamente suis generis, é uma das criaturas mais generosas do universo; e, sobretudo, minha amiga aglutinadora de amigos (junto com sua outra metade), que, com seu jeitinho mignon, consegue perpassar toda minha vida recente, me mantendo longe dos piores descaminhos, me proporcionando noites como a de ontem.

só pra começar.
(caralho de asas: que post gigante!)


30.1.03






olha o que eu ganhei de presente... (obrigada!)


29.1.03

da série meus amigos são xique no úrtimo!: o amigo performático:

e enquanto eu ainda estava comemorando a crítica super-positiva do marcos no the guardia, eis que honey pie, meu ex-roomate, me comunica ter sido um dos selecionados para a polpuda e cobiçada bolsa vitae de artes, na área de teatro.

a ti, só tenho uma coisa a dizer, seu monstro: eu já sabia.



sistema em harmonia

A harmonia não é o paraíso que nossa humanidade adora imaginar, ela resulta do puxão intenso dos conflitos, não por eliminá-los, mas por encontrar a maneira de as diferenças conviverem bem. Difícil, porém não impossível.
(quiroga, sobre libra)

isto sempre foi muito óbvio para mim, e fica cada vez mais. não existe relação sem conflito. qualquer relação, quanto melhor, quanto mais plena, mais potencialmente conflituosa. um filósofo francês, gilbert simondon, se não me engano, diz que os melhores grupos são aqueles que já contêm, dentro de si, aquilo pode separá-los. é pura teoria dos sistemas, o que não quer dizer que não possa existir harmonia. sempre por um tempo, indeterminado, porém finito.

tudo isto para dizer que eu de-tes-to e, a partir de hoje, me manterei bem distante de gente que não sabe lidar com conflitos. e não estou me referindo a brigas horrorosas e freqüentes, a violências insondáveis e diárias, que isto não é normal e quem não consegue ficar perto sem estar se ofendendo tem mesmo é que ficar separado, mas isto já é outra história e não é o caso aqui. eu estou falando daquelas pessoas que só sabem estar ao lado de outra enquanto todo mundo concorda com tudo. quando as diferenças começam, elas são ignoradas, ignoradas, ignoradas. um belo dia, sem aviso prévio, quando não dá mais para ignora-las, quando fica claro que é necessário o conflito, o real diálogo, mesmo que seja para descobrir que as diferenças são inconciliáveis, as pessoas correm léguas, se convencendo, numa análise de extrema auto-complacência, que é não é saudável brigar, discutir, negociar, que isso é coisa de gente doida. e vão eliminando ou mantendo à distância seja lá quem for, que nada disto se restringe aos relacionamentos amorosos, muito embora piore sensivelmente nestes, mas aí a coisa já é com freud.


27.1.03

how insensitive

creiam: eu não agüento mais este assunto. mas, sem querer, contra todos os meus esforços, ando em círculos: penso, penso e volto ao lugar em que não consigo compreender absolutamente nada do que está acontecendo. estou, bem almodovarianamente, à beira de um ataque de nervos, e no momento da minha vida em que eu menos posso ter um ataque de nervos: na reta finalíssima da minha dissertação. até isto me deixa ainda mais puta: falta de solidariedade do caralho, hein, companheiro, jogar tudo pela janela, sem aviso prévio, com tanta displicência e num momento destes? e logo você, que vai salvar o mundo?...

bicho, 40 dias depois do início desta merda toda (sim, eu disse 40!), eu estou profundamente cansada e sem saber mais o que fazer...


O Homem Público N. 1

Tarde aprendi
bom mesmo
é dar a alma como lavada.
Não há razão
para conservar
este fiapo de noite velha.
Que significa isso?
Há uma fita
que vai sendo cortada
deixando uma sombra
no papel.
Discursos detonam.
Não sou eu que estou ali
de roupa escura
sorrindo ou fingindo
ouvir.
No entanto
também escrevi coisas assim,
para pessoas que nem sei mais
quem são,
de uma doçura
venenosa
de tão funda.


(ana cristina cesar)


um homem com uma dor
é muito mais elegante
caminha assim de lado
como se chegando atrasado
andasse mais adiante


carrega o peso da dor
como se portasse medalhas
uma coroa um milhão de dólares
ou coisa que os valha


ópios édens analgésicos
não me toquem nessa dor
ela é tudo que me sobra
sofrer, vai ser minha última obra


(leminski)


classificados

mestranda desesperada procura alma abnegada e competente para escrever capítulo de dissertação. remunera-se mais ou menos bem, e com direito a jogar videogames de graça.


26.1.03





cúmplices

pergunta: por que é tão triste terminar um domingo assistindo televisão sozinha, mas se for ao lado de um alguém especial, não é tão triste assim, tem até seu charme? ok, ok, não adianta tentar enganar: eu sou uma grande barriga-branca! a-do-ro ficar em casa, e gosto mais ainda de ficar sozinha a dois. grande novidade, não conheço quem não goste... mas o foda é achar que a vida é só isso, que fora disso não vale a pena. estou morrendo de saudades das minhas noites divididas com ele, conversando da abobrinha mais absurda à crise existencial mais insolúvel, cozinhando víverens os mais estranhos, do gourmet ao trasch em 0.5 segundos, assistindo ao canal sony, me balançando na rede ou sentada no balcão. sei que tanto eu, quanto ele desejamos profundamente achar alguém com quem a gente tenha tudo isso e algo mais. eu, pela primeira vez na minha vida, primeiríssima, podia jurar que tinha achado, mas.

sei lá. tem alguma coisa sobre a melancolia do domingo à noite que me faz desejar, ainda com mais força, mais e melhor cumplicidade. xuxu, tô com saudade, viu?


24.1.03

da série sp-fortaleza: botecos1

em SP - o melhor, o mais agradável, o incomparável Filial. querendo me matar, é só ir por lá. se, por uma coincidência, eu não estiver lá, pode tentar o Bar da Dida, o Balcão, ou o bom e velho Comércio de Carnes Natingüi, que nem deveria estar na categoria boteco, mas deixa pra lá...

em Fortaleza - tem, mas tá faltando. poderia ser o Boteco, mas a freqüência é meio fuleira; poderia ser o novo Bebedouro, mas por quê, mesmo?, poderia ser o Ciço, mas parece que saiu de moda e ninguém quer ir mais lá, poderia ser o velho Esquina, mas eu tô ficando velha demais para sentar em cadeira de plástico no meio da rua, e poderia ser o conhecido Arlindo, com sua cerveja gelada e comida boa e barata, mas da última vez que fui por lá, a cerveja acabou no melhor da noite. conclusão: tá faltando boteco nesta cidade.


SABOTAGEM!!!


da série meus amigos são xique no úrtimo!: o novo dramaturgo brasileiro

meu amigo marcos barbosa, de tenros 25 anos, deu um chute nas canelas de muita gente metida. não apenas sua peça foi a selecionada, no workshop do royal court theater, para ser lida em londres pela companhia, como, na leitura,
michael billington, crítico de teatro do jornal inglês the guardian, deu de aparecer e adorar.


ele merece! ele merece!



23.1.03

fortaleza da pós-modernidade (ou: seria o fim do mundo?)

das duas, uma: ou esta cidade está inaugurando um pensamento autenticamente pós-moderno e complexo, ou isto aqui é mesmo um lixo! ou os dois. e -tenham certeza, meus amigos-, se tem alguém que empreende esta análise de uma forma realmente dialética, este alguém sou eu, que vivo de lá pra cá.

sei não. eu estava mesmo querendo voltar pra cá, mas depois dessa quermesse pseudo-cultural que foi esse festival "vida" & "arte" bateu um medo. sobretudo porque a quermesse foi realmente considerada uma coisa muito legal por gente supostamente muito esclarecida. nestas horas, vejo que fortaleza, não por acaso capital brasileira com a pior distribuição de renda, pode ser vista como a união do pior do mundo globalizado: urbanisticamente desastrosa, suja, um atentado ao meio-ambiente, violenta, com pouca tradição cultural e profundamente provinciana. e antes que me atirem pedras cibernéticas, um disclaimer: é óbvio que há exceções, é óbvio.

tudo isto me traz de volta o velho dilema de caixeiro viajante, que tem me regido a vida pelos últimos quatro anos: e agora, para onde? de janeiro de 99 até hoje, eu tive uns... 6 endereços, em 4 cidades e 2 países. não sou exatamente uma nômade, mas, neste exato momento, lançando olhar para o fim de mais um ciclo, me vem a inevitável pergunta. fortaleza tinha -ainda tem- seus atrativos: é muito mais barato viver aqui, tem meus pais, muitos amigos, contatos. ou, em outras palavras: proporciona boas condições econômicas, emocionais e até mesmo de conjuntura para a realização de alguns projetos mui urgentes. são paulo está cara demais e eu não estou a fim, neste momento, de continuar brincando de vamos editar o filme dos outros por pouco dinheiro e muito trabalho.

por outro lado (já que, tirando o disco dos tribalistas, tudo nesta vida tem um lado bom e outro ruim), fortaleza é esquisita. há que se desconfiar de uma cidade cuja única qualidade sempre lembrada é a tal da praia. a sensação é que a vida, aqui, é tão confortável que pára. ou anda bem devagar. sempres as mesmas pessoas, as mesmas coisas. eu achava que era o que eu queria, por uns tempos, mas já não sei mais.

e talvez não saber seja exatamente o que eu preciso para tomar as decisões de uma forma melhor.


22.1.03

quem mandou, coração

um mês depois, parece começar a fase das conclusões. então lá vai uma boa: amei muitomuitomuito, mas o mérito por isto é meu, não do outro. por pior que esteja sendo esta dor, prefiro sofrê-la, já que não há outro jeito, a ser alguém que não sabe amar de verdade: profundamente, sem amarras, com maturidade, para além do plano da idealização.


da série quiroga sobre libra

O medo da solidão torna essa experiência mais desgastante. A solidão, assim como tantas outras experiências, é transitória, muito mais para quem, como você, nasce no signo de Libra. A solidão também pode ser amiga.

eu tô dizendo, eu tô dizendo. já tem gente achando que eu é que escrevo o horóscopo do quiroga sobre libra.


21.1.03

espaço tempo

este ano está mapeado. it's all about the planning, baby, pensei, num devaneio, e esqueci que não é, não. you can plan all you want, but. a vida é o que de fato acontece enquanto você está ocupado fazendo planos. vivia repetindo isto, mas vejo que não havia entendido. e agora, o que é que eu faço? o mundo me soterra de realidade e eu, sem entender nada, sofro de uma enorme falta de ar na alma, como diria a amiga rodrigueana.

ontem, vi um documentário sobre imigrantes nordestinos. e pensei com meus botões: se eu tivesse saído com uma mão na frente e outra atrás de pedro II, no piauí, a minha vida seria muito mais difícil. mas será que eu teria tantas crises existenciais? tem algo dentro de mim, algo bem nordestino, cearense, seu lunga, que morre de vergonha de crises existenciais: -frescura!, diria o seu lunga, ícone máximo do imaginário cearense.

além de estar cantarolando acontece, meus mui tangíveis problemas listam assim:
-esta porra desta dissertação engatinha, tenho exatamente 38 dias para tê-la pronta, sem prorrogação;
-há a possibilidade de conseguir uma vaga numa universidade daqui, mas eu não tenho tempo;
-não sei se fico mais uns dias ou volto imediatamente: se fico, esbarro em fantasmas, como ontem; se vou, a sufocante rotina de escritora solitária pode me levar à loucura.

em que página da biografia da ana cristina cesar ela tem crises assim? meus ídolos passaram por coisas parecidas? o mundo está pesando demais sobre os meus ombros ou eu sou mesmo uma doidafrescachatareclamona? alguém me dá um ansiolítico poderoso?


sim, eu estou tão cansada, mas não pra dizer

esta novela não se acaba. quando eu penso que as coisas estão tomando um novo rumo, uma peripécia me surpreende, como numa sitcom ruim. meus pesadelos só pioram. este pesadelo só piora. e eu não agüento mais. como diria meu pai, melhor um horroroso fim que um horror sem fim, e, exato 1 mês depois, esta porcaria está sendo a segunda opção.


20.1.03



Ronald McMurderer ou: para entender do terrorismo oficial do tio júnior

dia desses, recebi um e-mail do meu pai americano (da família que me hospedou quando fiz intercâmbio há 10 anos atrás nas profundezas do famigerado meio-oeste americano). eles eram legais, esclarecidos muito além da família americana média, mas depois do 9/11... o e-mail começava assim:

PROFILING?

Please pause a moment and reflect back, by taking the following Multiple
Choice test:
1. In 1972 at the Munich Olympics, athletes were kidnapped and massacred by:
a. Olga Corbitt
b. Sitting Bull
c. Arnold Schwartzeneger
d. Muslim male extremists mostly between the ages of 17 and 40


2. In 1979, the U.S. embassy in Iran was taken over by:
a. Lost Norwegians
b. Elvis
c. A tour bus full of 80-year-old women
d. Muslim male extremists mostly between the ages of 17 and 40


3. During the 1980s a number of Americans were kidnapped in Lebanon by:
a. John Dillinger
b. The King of Sweden
c. The Boy Scouts
d. Muslim male extremists mostly between the ages of 17 and 40


e continuava com perguntas do gênero. no final, vinha este textinho nada irônico:

Nope, no patterns anywhere to justify profiling! So, to ensure we Americans never offend anyone, particularly fanatics intent on killing us, airport security screeners will no longer be allowed to profile certain people. They must conduct random searches of 80-year-old women, little kids, airline pilots with proper identification, Secret Service agents who are members of the President's security detail, 85-year old Congressmen with metal hips, and Medal of Honor winning former Governors.

Let's send this to as many people as we can so that the dunder-headed attorneys and judges that want to thwart common sense feel doubly ashamed of themselves.

eu fiquei passada com o tamanho da intolerância, com o quanto o discurso facista do júnior colou até com gente anteriormente esclarecida e de bem. e gostaria de mandar para eles o texto do fritz utzeri para o JB, dando mais dados sobre a verdadeira medida do terrorismo oficial promovido pelo júnior e ignorado pela humanidade, sobretudo por essas bestas falantes que são os americanos.

(dica daqui e daqui).


19.1.03

festival "vida" & "arte"

em duas cenas, a real medida deste festival de "arte" e "cultura":

cena 1:
os globais débora secco e dado dolabella chegam ao evento. escoltados por fortes seguranças, promovem, involuntáriamente, um pandemônio: hordas de adolescentes histéricas de acotovelam, pulam, umas sobre as outras, na esperança de um autógrafo, um olhar, um toque, um. depois da passagem dos astros, o caminho até a sala VIP do centro de convenções de fortaleza é um rastro de estilhaços, obras de arte quebradas, sapatos e objetos pessoais perdidos. daqui a pouco, tudo se repetirá, quando as duas celebridades, em pânico, tiverem que sair da sala VIP rumo ao desfile, misteriosamente localizado do outro lado do evento.

cena 2:
diante de um segurança do tamanho de um armário, zuenir ventura é impedido de entrar na sala VIP.


da série os astros - quiroga sobre libra

Seu coração está batendo, não tem jeito, você vive, e enquanto viver terá vontade de realizar sonhos. Não se aflija, o tempo não se perde, o tempo não é uma coisa, enquanto você viver, o tempo estará disponível.

em princípio, a astrologia é algo místico. meu ceticismo tem dificuldades em crer neste aspecto. por outro lado, a astrologia entendeu tudo: o mundo não se resume à terra, somos um sistema, complexo, em que acontecimentos num canto interferem no outro. se a posição dos astros no dia, na hora e em relação ao lugar em que nascemos é muito, pouco ou nada determinante eu não sei dizer. há, nisto, um pouco de religião: uma disposição generosa em crer naquilo para o que não há explicação. o meu lado anti-positivista, anti-determinista gosta de lançar outros olhares para o mundo. e, lendo o que o quiroga tem escrito para os librianos, não posso deixar de crer que há um certo sentido nisso tudo.


da complexidade

para que fique claro: ele não é um crápula. realmente não é. neste momento, acho que seja muitas coisas: confuso, emocionalmente inábil, imaturo, talvez, mas não é um mal-caráter. aliás, a única coisa que eu posso dizer de todos os homens que me amaram é que são todos homens de caráter. assim como são meus amigos. aqui, as coisas são mais complexas: há, aparentemente, mais coisas a interferirem no mundo do que, simplesmente, o amor e o desejo. olho, olho, olho e não consigo não me achar personagem de uma comédia de erros, à lá muito barulho por nada, só que no cenário pós-moderno, em que, apesar de todos os novos meios, a capacidade de comunicação entre os homens, seu espaço intersubjetivo, tudo parece ter apenas piorado.

há muito o que aprender com tudo isto, mas ainda não sei exatamente o quê. isto, também, só o tempo dirá. e agora entendo porque as pessoas recorrem com tanta firmeza à religião: é que diante de tantas dúvidas, ser materialista é pesado demais. há se arranjar uma forma mais sensorial de sublimar tudo isso. eu, como uma materialista convicta, mesmo que conviva com o conceito de deus no meu imaginário, agora, pela primeira vez, acho que preciso da religião. não o cristianismo, que este tem muitos problemas. talvez o zen budismo e sua convicção sobre a impermanência das coisas. é bem disto que se trata o que está se passando comigo.


17.1.03

tempotempotempotempo

uma das muitas coisas que deus não me deu foi paciência. estar numa situação em que só o tempo, de médias a grandes quantidades, pode tornar tudo mais ou menos suportável é o pior desafio. quero e sempre quis tudo pra ontem, motivo pelo qual deveria ir a um templo zen e começar a yoga, definitivamente.

e como me manter zen tendo que fazer a maior faxina interior da minha vida? veja bem, desta vez, é faxina do que deixaram dentro de mim, porque eu, se apenas desta vez, tenho muito pouco o que repensar. a doida desta história não fui eu, repito para mim como um mantra, para ver se torna tudo menos incompreensível. talvez tenha que me perguntar por que esbarro com gente tão cheia de... issues: fria, mal-resolvida, que, diante do atrito, se fecha e corre léguas.

os homens, culturalmente, têm uma burrice emocional fora de série. estou cada vez mais convencida disto. um ou outro se salvam, apenas para tornar o bolo mais coerentemente inábil. as mulheres, estas têm seus problemas: tendem a ser inseguras, co-dependentes, e talvez meio caricaturais, presas a padrões de relacionamento que o cinema nos vendeu. euzinha? de jeito nenhum, mas aceito comentários de quem me conhece e acha o contrário. aliás, agradecerei esses comentários. de modo geral, as mulheres estão melhorando: estão se tornando mais independentes, seguras, fortes, sem perder a sensibilidade. os homens, coitados, involuem: continuam a ser os fortões, não choram e são cheios de amarras, mas têm que disputar o mundo que inventaram com as mulheres.

eu de-tes-to sexismo, e isto aqui não é um manifesto neo-feminista. meu roomate, por exemplo, é homem e é extremamente sensível, mais do que muita mulher que eu conheço, mas ele é uma raridade. eu sou mulher e não me acho um clichê, mas não abro mão da minha sensibilidade, muito pelo contrário. agora, estou apenas tentando entender que alguém que eu achei que era o cara mais legal do mundo talvez não passe de um garoto: incerto, inseguro, imaturo, porém escondido atrás de uma capa de perfeição, e que não tem nem consciência dos próprios limites ou do que se passa ao seu redor.


16.1.03

os astros, novamente

O desespero acontece quando sua mente acha que nada de novo acontecerá, e que conhece tudo o que a vida oferece. Saiba que tais pensamentos só ocorrem porque você decidiu acreditar neles. Tome a decisão contrária.
(quiroga, libra, hoje)

eu continuo tentando ser cética, mas.


um pé. depois o outro

é uma questão de tempo. ontem, fiz tudo certo: me vesti bem, botei um sorriso no rosto, saí, conversei com as pessoas, fui simpática além da minha própria natureza preguiçosa e blazé. não adiantou, havia algo dentro de mim que estava meio atravessado, e nem poderia ser diferente. recebi mil elogios, daqueles que me deixaram feliz, àqueles meio cafagestes. de um "você está linda" ao pé do ouvido, pra ninguém perceber, a um "pela última vez: casa, comida, roupa lavada, cinco mil por mês e um avid! casa comigo!!!" semi-cafageste e realmente bem-humorado. além das mulheres: não há elogio à beleza feminina mais confiável do que o de outra mulher.

mas o problema não era o resto da humanidade, era eu mesma. passa, gente, eu sei, eu sei, eu sei. e é muito bom ouvir o mundo te contrariando naquilo que tanto te dói. mas também não adianta querer estar alegre e serelepe, fingindo que acha que dias melhores virão, mesmo que a gente saiba que virão. tem alguma coisa sobre andar pelo mundo olhando para ele sob uma nova ótica de solidão que só o tempo faz passar.

deve ser como ir à público pela primeira vez sem a sua velha perna: mesmo que as pessoas nem notem, nem toquem no assunto, se você não estiver bem sem ela, começa a analisar os olhares e a interpretá-los todos como para sua ausência de perna. e não há elogio cafageste que salve.


15.1.03

ciclos

lampejo. escuridão. lampejo. escuridão. é difícil, mesmo com a cabeça no lugar. mesmo entendendo que a doida desta história não sou eu.


14.1.03

lampejo

talvez seja apenas um lampejo. talvez eu tenha aprendido um pouco com os outros descaminhos. talvez sejam os amigos, a família. talvez, ainda, seja a força de uma decepção: caiu a máscara. talvez, quem sabe, a dor não seja tanto por perder a pessoa, mas por perder os planos. e os planos não os perdi: perdemos. eu, ainda menos, que não fiz nada para perdê-los. não sei, mas há, com certeza, um lampejo de luz lá em cima.


um mundo perfeito na terra

o mundo perfeito mudou de endereço! nada como a imprensa do mundo real para dar uma força ao mundo perfeito... três vivas ao novo lar da editora, ela merece!!!


notícias do fundo do poço - parte 3

parece uma amputação: vai-se uma parte de você e além de ter que se acostumar a andar sem aquela perna, você a continua sentindo, de vez em quando. poderia ser muito pior, eu sei: foi apenas uma separação, um término. mas uma amputação, brusca, dolorosa e recorrente, não menos.


13.1.03

o que dizem os astros

Há dias que a alma só quer colo, mas não o consegue. Às vezes inclusive acontece o contrário, necessitada de colo ela encontra críticas e se vê entre a espada e a parede. Coisas que não se explicam, mas acontecem.
(quiroga, sobre libra, no estadão, hoje, obviamente)

eu juro que eu tento ser cética, mas tem dias que.



notícias do fundo do poço - parte 2

gostaria de dormir pelas próximas 72h, no mínimo. mas nem isto garantiria alguma paz: só tenho tido pesadelos. felizmente, meus pesadelos são menos óbvios do que deveriam, muito embora tenha sonhado com a noite de ontem com requintes de realidade que me assustaram. lição 1: sempre confie nos seus sonhos.

tirando um ou outro sonho quase premonitório, a maioria apenas compartilha um tema: solidão. e o pior tipo, aquela que se sente no meio de uma multidão desconhecida. no primeiro da série, de que consigo me lembrar, eu era uma estudante estrangeira numa aldeia do interior da polônio, iugoslávia ou algo assim, frio, diferente, estranho. eu detestava, mas não tinha como voltar, e passava o sonho sob uma angústia sufocante, por saber que teria que lidar com aquilo. depois, sonhei com uma cidade grande, nova. não era são paulo. mais uma vez, só, no meio de uma multidão. noite passada, outro: eu estava numa casa, numa montanha, com muita gente. um fim de semana, coisa assim, mas eu não conhecia ninguém. o gordinho, meu cachorro, para quem não conhece, ia comigo e era atacado por um cachorro grande. morria.

como eu ia dizendo, talvez eu seja mesmo doida de pedra. se tem alguém aí fora que sente as coisas nessa medida, as boas e as ruins, que é mais feliz que qualquer pessoa, mas quando sofre, parece que o mundo vai se acabar... diz alguma coisa?


notícias do fundo do poço - parte I

cada vez, ele fica mais fundo. serei eu, ou será o poço que piora? e logo quando eu achava que estava indo pra bem longe da boca do poço, imagina do fundo, eu caio. de uma hora pra outra. e vou caindo, caindo, caindo, e pensando que chegou o fim, mas eis que agora avisto o fundo: não poderia ser de outro jeito, posto que caí bem de cara. pensei ter estado aqui outras vezes, embora meus poços sejam menos fundos, escuros e tenebrosos que muitos outros por aí. mas, segundo me explicou minha amiga, a dor da perda é igual, seja qual for a perda. é o que diz a psicanálise.

talvez eu seja mesmo doida de pedra, de sofrer tudo tão intensamente. digo, sem sombra de dúvida, estes acontecimentos inauguraram alguns novos graus na escala de sofrimento. e eu que achava que já havia cruzado com os piores doidos. propaganda enganosa, propaganda enganosa. eu preciso aprender a diagnosticar os doidos antes. antes, entendeu, mulher? basta de umbigos ambulantes, com discurso bonito.

gostaria pelo menos de botar tudo isto num filme, mas como?...


9.1.03


em homenagem aos que sentem, paulo leminski:

Apagar-me

Apagar-me
diluir-me
desmanchar-me
até que depois
de mim
de nós
de tudo
não reste mais
que o charme.



cinema de lágrimas da américa latina (ou: por força deste destino, um tango argentino me cai bem melhor que um blues)

ok: sou sentimental. e daí? repito, num dó de peito: nine out of ten movie stars make me cry, i'm alive!!! e mais: sou latinoamericanamente sentimental, se é pra sofrer, que seja com samba, choro e tango, um chico buarque, se houver pulso, e um caetano veloso (já que sua obra está toda a R$ 9.99 nas americanas). está foda, e nem terminou de vez esta novela, mas eu já consigo me convencer, como a moça do filme: é assim que eu quero. não vim aqui para ter meias emoções, entendeu?




dia d

tem dias em que tudo parece uma grande bosta. noutros momentos, eu batia no fundo do poço e logo bounced back off. elegia um novo rumo: um novo filme, uma mudança de cidade, aquele cara para quem eu não dei bola. agora, não há, nem pode haver, meta nova a curto prazo: a batalha é longa e tortuosa e pra ontem. escrever a dissertação é como fazer dieta, é como comer um prato de salada todo dia, pensando que, no final, vou ganhar um bolo de chocolate. pior: o bolo de chocolate só depende de quão disciplinada eu for na minha dieta. tá difícil este começo de ano. nessas horas, nem sofrer em paz eu consigo: me culpo, tanta gente tem problema muito maior...

o fato é que estou achando minha vida uma bosta. sim, passa, eu sei. mas, depois de tantas bordoadas, tudo o que dá vontade é de parar e deixar tudo de lado, e descobrir se tem uma forma de não doer tanto, esse diabo dessa vida. se eu conseguisse pelo menos traduzir em filme tudo isso...


samba do grande amor

samba. dormir, acordar. café preto de manhã cedo. conversas, sérias, bobas, tudoaomesmotempo. vinho. viagens. política. governo. desenvolvimento. abraço, beijo, sexo. cumplicidade. e agora: onde é que eu enfio tudo de bom?


8.1.03

o mundo é um moinho

quem já amou alguém tão profundamente, tanto que parecia que ele era uma parte de você, e, um belo dia, olhou pra ele e teve a horripilante sensação de não conhecê-lo, de tão absurdo que era seu comportamento, levanta a mão.


o mundo real descobre o mundo perfeito

cada vez mais, o mundo perfeito cai nas graças dos veículos da mídia do mundo real. agora, foi o JT que publicou uma matéria sobre os famosíssimos e polêmicos geradores de letras dos tribalistas e dos engenheiros do hawaii.

a parte que eu mais gostei da matéria foi a seguinte:

Daniela Abade, criadora do Mundo Perfeito, já sentiu na pele a fúria dos fãs do grupo. Segundo ela, pelo menos 30 admiradores dos Engenheiros mandaram e-mails indignados com a ousadia do gerador de letras. Diferentemente, nenhum usuário do site escreveu para defender os Tribalistas.

(risos. muitos risos)

e o melhor é o seguinte: com a audiência do mundo perfeito catapultada ao estrelado nacional, nosso humilde caralho de asas andou bem mais visitado. uêba!


SPC= serviço de proteção ao coração

breve, num blog perto de você


7.1.03

blogueiro carente a procura de comentários
gente, comenta aí, vai?!...


e depois eu fico reclamando que não consigo escrever um roteiro...


6.1.03

a boca livre do fome zero

enquanto o brasil, sob a égide de luiz inácio, tenta estabelecer uma nova dinâmica, diferente da que o rege há 500 anos, a elite-feliz que habita a revista caras e universos paralelos afins continua sob o efeito dos mesmo alucinógenos de sempre. o texto apontado acima, de joaquim ferreira dos santos, para o no mínimo é uma bela descrição do estado peremptório de alienação na nossa elite, da qual eu e você e o seu vizinho estamos muito próximos, se é que não fazemos parte ou almejamos fazer.

eu sempre disse que a revista caras e suas parentes próximas são revistas de humor. negro, claro, porém só vai rindo. levar a sério, é atestado de insanidade mental. ignorar, muito pior: este é o país em que o objetivo de todos é estar naquelas páginas. e o que vai chover de socialaite com bursite não tá no gibi!


eu já vi este filme

em nota no jornal O Povo, de Fortaleza, hoje: seu gilberto andou dizendo, lá pelas bandas do Morro da Mangueira, que o novo secretário do audiovisual será o sr. Orlando Senna. Ô povo bairrista esses baianos!!!


3.1.03

da infinita série trilha sonora dos meus sentimentos, agora em pílulas:

nine out of ten movie stars make me cry
i'm alive


há dias tentando entender certas coisas, certas pessoas, certas atitudes. tem algo dentro de mim, talvez muito doentio, que me faz querer entender. e quando eu digo entender, não estou me referindo àquela racionalidade clichê, a uma lógica matemática, cartesiana, redutora do mundo. é entender com o corpo todo, assim como você entende o que é o som do chet baker tocando portrait in black & white, entende mesmo, mas não pode explicar, senão com metáforas ou com outra coisa inexplicável. mas entende. talvez melhor do que qualquer equação de primeiro grau extremamente simples e lógica.

pois é: eu também preciso entender. com corpo e alma (não que eu creia nesta dualidade). e não estou entendento. ou melhor, estou em ciclos: entendo, não entendo, entendo, não entendo... neste exato momento, acho que entendo. e -Deus!- como dá tranqüilidade entender, mesmo que tudo continue distante.

mais importante ainda é me entender. e é por isto que repito, cantarolando, me entendendo e me reconhecendo como uma pessoa que sente, antes de qualquer coisa, e sentir não é oposto de pensar ou entender, por incrível que pareça: nine out of ten movie stars make me cry: i'm alive. enquanto tiver esta capacidade, tudo bem.


2.1.03

mordendo a língua? (ou: gil fundiu a cuca de vocês mais uma vez!)

parece que eu já comecei o ano mordendo a língua: o discurso de "posse" do ministro gilberto gil foi tudo! ele arrasou! tudo, absolutamente tudo em que eu acredito com todas as minhas forças e um pouco mais o homem falou: na necessidade do Estado como promotor de políticas públicas de cultura, na cultura como argamassa da identidade nacional, na urgência de nao deixar a cultura nas mãos apenas das leis de incentivo e no papel da cultura como motor de reconstrução do país, junto com tantas outras coisas além da economia...

menino, tô passada! e terei o maior prazer em admitir ter mordido a língua se ele fizer -ou tentar fazer- tudo o que, brilhantemente, disse.

(agora, será que ele se separou de flora? ou -glup!- foi ela quem escreveu o discurso?...)