livro de areia - reloaded

mais vale um caralho de asas na mão do que dois voando

28.2.03




27.2.03

eu, tu, eles ou: o poder paralelo

e já que o negócio deste caralhodeasas hoje é refletir sobre os mais recentes e interessantes eventos na capital fluminense, vale dar atenção ao sempre pertinente jânio de freitas. (por enquanto, só para reféns do uol, mais tarde, eu prometo democratizar o artigo usurpando-o do grande grupo folha.)
aqui, apenas uns brindes:

Entre os tantos destaques possíveis, na investida de bandidos que parou o Rio segunda-feira, o preferido de toda a mídia foi o pequeno objeto jogado no jardim de um prédio na praia de Ipanema. Chamado de granada, como se os repórteres nunca tivessem visto um filme em que soldados arremessam granadas, era uma bomba de gás, das usadas, inclusive, contra repórteres e fotógrafos. Mas, agora que sua identidade justificaria o destaque, dá-se o oposto. A bomba era da Marinha.

O abastecimento de armas para a criminalidade urbana é o aspecto mais desprezado pelas polícias em geral e, sobretudo, pela Polícia Federal, incumbida da repressão ao contrabando. As causas da criminalidade são outras, mas o seu poder de fogo, que tantas vezes afugenta a ação das PMs, é proporcionado pela estranha ineficiência da repressão ao abastecimento. Mas não só isso: já se vê que é proporcionado, também, pelas armas que a sociedade paga para sua proteção.
A bandidagem não está só nas favelas.



assim como LF veríssimo, freitas delineia uma questão que, para mim, é a mais urgente: estamos TODOS neste barco. e, pasmem: não somente como vítimas. ou, em bom português: o buraco é mais embaixo!!!





ousar lutar, ousar vencer

coluna do luiz fernando veríssimo hoje, no estadão:

nosso pânico

“Será que entre os presos deste país existe um que tenha cometido um crime mais hediondo do que matar uma nação de fome e na miséria” escreveu o filósofo mais influente do momento, o anônimo autor da carta distribuída a comerciantes antes do ataque orquestrado do “tráfico” ao Rio, na segunda-feira. Difícil dizer o que assusta mais, o poder de mobilização e de fogo do crime, o que não é novidade, ou o tom político da sua última ameaça, que é inédito. Pois é aterrador pensar que só o que distingue vandalismo organizado de insurreição é o arranjo das palavras que acompanham os atos. Que só o que falta para banditismo virar revolução é um rótulo que grude, é a frase apropriada. Mais de um criminoso já explicou sua vida e seus crimes como um revide à sociedade desigual em que nasceu, já tivemos muitos aspirantes a Robin Hoods e a bandidos justiceiros entre nós e hoje nem o mais reacionário defensor da tese de que vagabundo nasce feito discute as causas sociais da delinqüência, mas o vocabulário da retribuição ainda não se articulou, ainda não achou a sua seqüência certa. Você e eu, que somos pessoas conscientes mas sensatas (no Brasil não é fácil ser as duas coisas ao mesmo tempo) e já concluímos há muito que vivemos no meio de uma guerra civil crônica, ou já nos perguntamos muito “como é que essa gente não se revolta?”, temos medo de dizer isto com clareza para não contribuir para o clima de guerra, ou passar por defensor de assassinos, ou, num descuido, dar aos bandidos slogans prontos para transformar terror cotidiano em terror político, e aí como é que a gente fica? Nosso pânico é que junto com as armas de uso exclusivo das forças armadas o “tráfico” passe a usar a retórica de uso exclusivo da esquerda, ou a nossa retórica da indignação sem a sensatez. Não podemos nos arriscar nem a concordar que as cadeias estão conspicuamente vazias de culpados pelo que foi feito à nação em anos de insensibilidade e descuido, para não alertá-los de que estão chegando perto de um discurso aproveitável de retribuição. Portanto: ssshhhh.

como diria leminski: agora é que são elas. lendo a história dos anos de chumbo da ditadura no brasil, através do livro a ditadura escancarada, do elio gaspari, tenho descoberto um certo grau de amadorismo dos grupos terroristas brasileiros -VPR, ALN, MR-8... mas, agora, amadorismo é só o que não falta mais aos grupos terroristas do narcontráfico. e se, num lapso bizarro da história, marighella encontra fernandinho beira-mar?... eu já tinha me perguntando algo parecido. agora, com o lf veríssimo (e, ao contrário de mil textos gaiatinhos atribuídos a ele que recebemos por e-mail, na melhor boa vontade dos remetentes, este texto é do veríssimo), bem, com ele falando... ai!



26.2.03

da nova série reminiscências (ou, talvez: memória da pele)

eu, você, nós dois já temos um passado, meu amor, um violão guardado, aquela flor e outras mumunhas mais...

desde aquela tarde, em que o fernandão diabo lôro, um técnico de som de 1,90m de altura, lourão, fortão, mas uma das criaturas mais doces que eu já conheci nesta vida, bem, desde que ele cantarolou comigo os versinhos acima, no refeitório do centro comunitário da igreja de Itapiúna, 300km de Fortaleza, debruçados no parepeito da janela, onde filmávamos um curta chamado o santo bicho (não, não é um filme gay), essa música ganhou marcas afetivas enormes, que só se acumulam com o tempo. daquele dia, lembro até da luz que entrava pelas janelas, aquela luz rasgada do sertão, mas já se esmorecendo, quase final de tarde, a equipe tomando suco de maracujá com bolacha, final de um dia de filmagem. foi minha primeira experiência com cinema. eu era continuísta.

eu e o fernandão não cantamos a música um para o outro. cantamos juntos, extremamente cúmplices, mas cada um com sua memória afetiva. eu estava completamente apaixonada por um cineasta, o assistente de direção do filme. e o namoro tinha acabado de começar, durou alguns anos depois daquilo. e por muito tempo, depois que acabou, eu, você, nós dois... éramos eu e ele. as marcas do que vivemos me acompanham até hoje, muito embora hoje, por força das circunstâncias, a gente nem se fale mais direito. mas tenho lá minha fé de que a cumplicidade, em linguagens muito insondáveis, esta não se perdeu.

hoje, depois de alguns anos (aquela tarde era julho/1994), o já temos um passado, meu amor me segue de outra forma. não a detesto, em certos momentos. não sou de negar minhas memórias. toda a conversa sobre Complexidade, para mim, é isto. é aquele infinito-enquanto-dure ao qual me referi nalguns outros posts. um grupo é, sempre, maior do que a soma de suas partes. algo permanece e permanecerá. e isto é maior do que cada um de nós. ou melhor: acho que tem muita gente que passa pela vida dos outros sem deixar rastro, e deixa que os outros façam isto. não faço nem idéia de como é isto: quem, ainda que por um pequeníssimo momento de cumplicidade, passou pela minha vida, deixou rastro, deixou memória em mim. e eu prefiro, imensamente, que seja assim.

por isto, cantarolo, de vez em quando, como a gal no meio de you don't know me: eu, você, nós dois já temos um passado, meu amor, um violão guardado, aquela flor e outras mumunhas mais...



da série trocadalhos de asas:

VAI SE QATAR, ROMÁRIO!!!


(eu perco o leitor, mas não perco a piada, hahaha!!!)



teoria geral dos sistemas

as mulheres são as portadoras da Complexidade, foi o que ele disse. nada que, empiricamente, todas as mulheres da sala, e alguns homens, já não soubessem (muito embora nós -e eles- demos à Complexidade outros nomes. ou sentidos).

a tirar pela minha frustrada tentativa de explicar ao xuxu, nas mais vagas linhas, o que caralhodeasas é esse negócio de Complexidade, explicação esta constituída por frases incompletas, gestos desconexos e performáticos e uma enxurrada de informações afetivas bem mais difíceis de medir, é melhor eu deixar isto para outra hora, aqui.

uma coisa eu digo, contudo: algo que trata o Amor como processo real, objetivo, manifestação extrema da Complexidade, e não como uma coisa metafísica, inexplicável, inalcançável senão por idealismos do plano religioso ou coisa do gênero, já me conquistou em cheio. e me deixou o resto do dia (da semana, do mês...) pensando em coisas...



25.2.03



da série banda de áudio

Retrato pra Iaiá
(Rodrigo Amarante/ Marcelo Camelo)

Iaiá, se eu peco é na vontade de ter um amor de verdade. Pois é que assim, em ti, eu me atirei e fui te encontrar pra ver que eu me enganei.

Depois de ter vivido o óbvio utópico - te beijar - e de ter brincado sobre a sinceridade e dizer quase tudo quanto fosse natural ... Eu fui praí e ver, te dizer:

Deixa ser. Como será quando a gente se encontrar ? No pé, o céu de um parque a nos testemunhar. Deixa ser como será! Eu vou sem me preocupar. E crer pra ver o quanto eu posso adivinhar.

De perto eu não quis ver que toda a anunciação era vã. Fui saber tão longe - mesmo vc viu antes de mim - que eu te olhando via uma outra mulher. E agora o que sobrou: Um filme no close pro fim.

Num retrato-falado eu fichado exposto em diagnostico. Especialistas analisam e sentenciam: "Deixa ser como será. Tudo posto em seu lugar". Então tentar prever serviu pra eu me enganar. Deixa ser. Como será. Eu já posto em "meu lugar"? Num continente ao revés, em preto e branco, em hotéis. Numa moldura clara e simples sou aquilo que se vê.


(eita cançãozinha bonitinha desses menininhos lindos do los hermanos! tá no repeat do meu discman, porque, afinal, se peco é na vontade de ter um amor de verdade...)



23.2.03

S.U.S. (ou: Simplesmente Um Sábado)

pra quem queria brincar de eu nunca comigo, lá vai uma dica: pode dizer eu nunca fui bater no Hospital das Clínicas, num sábado à noite, para pedir ao médico de plantão que, por favor, trocasse minha receita de remédio controlado porque a que eu tinha havia sido expedida por um médico de fortaleza o que, aparentemente, não funciona numa farmácia em são paulo.

quando o farmacêutico, o simpático armando, que quer fazer mestrado em farmaco-alguma-coisa na alemanha, pegou a receita e fez aquela cara de iiiiih..., eu percebi que meu sábado à noite seria tudo, menos previsível. depois da explicação, e diante do meu pânico absoluto, ele, e praticamente toda a farmácia, comovidos com a cearense-desterrada-e-sem-médico, começaram a dar conselhos. armando chegou a ir pegar o livrinho da unimed, mas depois de muita confabulação, virou pra mim, na maior boa vontade e disse: -meu amor, por que você não vai na emergência do HC?

confesso que, num espectro muito grande de frases que eu imaginei ouvir num sábado à noite, esta não estava incluída. felizmente. já em delirium tremens pela abstinência da minha droga tarja-preta, e sem saber o que fazer, resolvi seguir o conselho de armando. o que me impulsionou eu não sei. se fosse realmente cristã, diria que foi Deus, e uma parte de mim com certeza o faz, mas prefiro chamar de Uma Concepção Mais Complexa E Materialista De Acaso E Intuição. diga-se de passagem: eu não sabia nem onde caralhosdeasas ficava a entrada da emergência do HC, o que, convenhamos, tem um lado bom.

depois e errar três vezes a entrada da emergência, o que me possibilitou ter um diálogo suis generis com os seguranças da emergência pediátrica, cheguei ao lugar certo. seguindo a linha amarela, fiz minha ficha e, juro, depois de seguir a linha azul, em menos de 15 minutos, meu nome completo foi chamado à porta do consultório de número 6, pelo dr. murilo. provavelmente acostumado a pegar todo tipo de mazela num sábado à noite, dr. murilo -um geriatra- deve ter ficado muito feliz de encontrar um problema bastante manejável e, sem muitas firulas, trocou minha receita por uma que vale em são paulo. preenchendo os diversos campos, ainda teve a sensibilidade de perguntar: você quer que eu te receite logo umas duas caixas?, ao que eu, já sorrindo, aliviada, respondi com um categórico sim. aparentemente, pelo menos aos olhos do dr. murilo, eu não tenho cara de suicida.

meia-hora depois, eu já estava de volta ao balcão do farmacêutico armando, que ficou muito feliz em saber que seus conselhos tinham dado certo. ainda tivemos tempo de conversar sobre a incoveniência dos planos de saúde, os juros dos cartões de crédito, as altas tarifas aéreas e os melhores programas de milhagem, enquanto eu adquiria as minhas estimadas duas caixas de remédio. e mais uns tic-tacs e um aparelho de "barbear" feminino.

em algum momento dentro do meu carro na teodoro sampaio, mesmo em lágrimas de ansieda/tpm, comecei a encarar toda a experiência como, enfim, uma experiência. sim, pode parecer um grande sinal de loucura, mas, posto que ela terminou bem, eu não a troco por nenhum programa hype da noite paulistana. de alguma forma, neste extremamente confuso momento da minha vida, era justamente daquilo que eu precisava (e eu não espero que ninguém compreenda isto). por mais imbecil que possa soar, a "troca" que tive com armando e com dr. murilo, realmente interessados em resolver meu problema, foi maior do que todo e qualquer tipo de diálogo que tive nas minhas últimas 500 saídas pela noite cearense, paulistana ou o que for. por mais patética, minha ida a um hospital do S.U.S., num sábado à noite, vendo famílias preocupadas com seus parentes com problemas realmente infinitamente maiores que os meus, foi um elixir para minha crise existencial. não que ela seja vã, mas a experiência me fez sentir um pouco mais parte do mundo real e, ao mesmo tempo, muito bem para a média do que acontece nele.




22.2.03

eu si amo

a caralhodeasas inc. finalmente traz para você algo inédito e indispensável: agora, ao clicar sobre a figurinha da lara-croft-cangaceira, você será levado a uma auto-biografia desta psicopata que insiste em informar o mundo de sua própria esquizofrenia. feito especialmente para aqueles leitores que não conhecem o alter-ego de dr. strangelove, o ser mundano que se esconde na grande rede atrás de um personagem maníaco que quer dominar o mundo.

definitivamente: eu si amo!



da série mamãe eu quero





21.2.03

nuance

percebe a diferença? uma coisa é você estar envolvida(o), apaixonando-se, apaixonada(o), amando ou seja lá que nome você usa, e dizer para o objeto-e-sujeito do seu sentimento: - quero ficar com você. outra, leve, porém significativamente diferente, é você estar envolvida(o), apaixonando-se, apaixonada(o), amando ou seja lá que nome você usa, e dizer para o objeto-e-sujeito do seu sentimento: - agora, desejo muito que seja você com quem eu vou ficar. se. como. quando. onde. por quanto. não há respostas, a menos que em retrospectiva. depende de nós e de tudo.

para mim, isto é o infinito-enquanto-dure. covardia é negá-lo. burrice, então, invertê-lo: o limitado-para-sempre.



da série banda de áudio

Viver de Amor
(Toninho Horta / Ronaldo Bastos)

Quem quis me ferir, ficou assim
Não aprendeu perdoar
Morrer de amor até o fim
Não brinque de esconder


Não fica bem
Você mentir depois de jurar
Desperdiçar o tempo de tentar morder
E provar do amor e não largar
Pra tentar conhecer


Quem olha pra mim, me vê feliz
Não sabe o que é duvidar
Viver de amor até o fim
Não quero mais chorar


Sem perceber
Jogar a vida inteira no ar
Saber de cor
Viver do jeito que ser quer
E morrer de amor e não ligar
Pra tentar esquecer


já velha conhecida e linda na parca voz do meu maravilhoso tunim horta, ou na antiga voz de bituca, ficou sublime na versão voz-e-violão de luciana souza e romero lubambo. foi o xuxu, numa pausa da sua fase barroca, entre uma música exata e outra, que me mostrou.

fica indescritível acompanhada da música do toninho, mas, se o ronaldo bastos tá dizendo tudo isso, quem sou eu pra discordar... morrer de amor, pois, que seja. e, sobretudo: viver.

(ps: engana-se quem pensa que isto se refere àquele assunto. a ele, também, posto que parte da minha vida. mas esta é infinitamente maior... e é, essencialmente, viver de amor.)



libra

Por mais que seu desejo natural seja preservar a harmonia, você deve levar em conta que às vezes é necessário sacrificar essa condição, justamente para depois poder retomá-la no espírito e não apenas na forma.
(do quiroga, claro)

and what's that supposed to mean, bitch?



não amarás

depois de ter passado o dia inteiro no apartamento -a porta está e-xa-ta-men-te como o roomie deixou-, estou me sentindo um personagem de kieslowski. que eu falo sozinha -e em inglês- não é nenhuma novidade. pelo menos não pra mim. mas agora, é isto, ou a loucura completa. o contato com o exterior foi a janela: os mesmos moleques chatos berrando pela liiiiiiiaaaaaa!!! no pé da janela, a mesma velha histérica gritando pela báaaaaarbara!!!, como todo dia. a praça, lá, como sempre.

em inglês. acho que é pra fazer um personagem. ou muitos. ou talvez para parecer menos ridícula. eu queria ser atriz, confesso. cheguei a fazer 5 anos de teatro e ainda há algo dentro de mim que, escondido, tenta interpretar. na frente do espelho, longe de todos. ou talvez não: talvez a interpretação seja diária, na frente das pessoas, e eu seja a da frente do espelho.

não sei como lidar com esta personagem kieslowskiana, pesquisadora, escritora, solitária por ofício, neste momento. não é lamento: é constatação da(s) circunstância(s). e continuo falando com interlocutores imaginários em inglês, muito embora os filmes fossem em polonês. ou francês. mas eu prefiro a fase do decálogo: mais existencialista e apocalíptica. como eu, every other day.



20.2.03

da série: mamãe eu quero





19.2.03

um leminski para cada ocasião:

acordei bemol
tudo estava sustenido


sol fazia
só não fazia sentido




18.2.03

da série inéditas poses gordas




no colo da irmã: -faz biquinho, faz, godinho...
(ai, meu saco!, pensa gordinho, resignado...)





(... suspiro de profunda resignação...)





mas que mania de me agarrar têm essas humanas!!!





zzzzzzzzzzzzz...





um portrait: i know one day i'm a star...





eu sei o que você fez o verão passado...




como assim, eu não vou?




happy roomies



ele



eu

17.2.03

o público e o privado

excelente artigo de guilherme wisnik que saiu na folha de são paulo de ontem, sobre a querela entre o teatro Oficina, do Zé Celso Martinez Corrêa, e a construção do shopping center do silvio santos.

ou melhor, um texto sobre o espaço urbano desta cidade, sobretudo, mas que também procede para o resto do país: um monte de espaços privados, sem significação, conectados por pequenas nesgas de espaço público, cada vez menores, menos importantes, menos públicos, menos. e também sobre a necessidade de não ser razoável em tempos ainda tão consenso de washington: na arte, na política, na vida, em tudo isto junto.

algo sobre o que refletir durante o engarrafamento diário na marginal.


mojo

eis o mistério da fé: tem dias em que a você põe a melhor roupa, aquela que enfatiza tudo o que, talvez, tenha de mais atraente. capricha na maquiagem, cede aos apelos do roomate psicótico e solta o cabelo, usa decotes, põe até batom. e nada. noutros dias, como hoje, você põe a calça jeans mais default, uma camiseta hering, tênis, prende o cabelo de qualquer jeito e sai com a cara de histérica que Deus te deu e plim!: do flanelinha ao carinha bonitinho no aeroporto, o mundo inteiro te quer!

explica!


14.2.03

a estrada

nada como o lado de fora da casa: um grande problema resolvido, assinado, carimbado. um telefonema inesperado de um grande amigo, de passagem pela cidade. um almoço seguido de um cinema: la strada. nada como federico e giulietta, como gelsomina e zampanò.

nada como um dia. depois outro.


13.2.03

devir

a cada chegada, um recomeço. eu sei, fui eu que quis assim: desde muito cedo, sabia que o mundo -meu mundo- não podia se restringir a fortaleza. e sei, mais ainda, que, não tivesse sido assim, aí é que estaria tudo uma merda. menor dúvida.

contudo, devo admitir: às vezes, cansa. sobretudo quando um monte de coisas, tudoaomesmotempoagora, resolve te desafiar. eu já estava bastante cansada desta rotina de acadêmica-escrivinhadora-de-dissertação antes do chão, misteriosa e repentinamente, desaparecer debaixo dos meus pés, it's not like i had it all figured out... but, agora, depois de tudo, na milésima volta, um enorme cansaço se abate sobre minha libriana alma (ou seria o efeito da mistura das minhas novas drogas com os anti-histamínicos contra-indicados na bula? foda-se: eu não agüentava mais espirrar).

ok, people, cut me some slack here: i just got back. não fazem nem 24h ainda. mesmo quando tudo eram flores(as if), já era difícil. e ô dois lugarezinhos diferentes: fortaleza e O Resto Do Mundo!

... ah, sei lá, porra!


alguma coisa acontece no meu coração...

no coração e, certamente, no nariz! cheguei na terra da garôa e meu nariz foi a primeiríssima coisa a dar o sinal. espirro há umas 10h!

mas fui muito bem recebida, meu adorável roomie tratou de reunir alguns psicopatas queridos: gui e sua irmã, nossa querida editora, el cabeçón e a nigriiiinha (hahaha!!!), tudo no meu bom e velho Filial. ficou faltando só a fuleiragem da docinho para completar o barco, além, é claro, de nossa bela giulieta.

melhor ritual de boas vindas, impossível. gracias, amiguinhos!


12.2.03

pode ir armando o coreto e preparando aquele feijão preto: eu tô voltando. HOJE

como é que é? vai rolar um filial ou não?


11.2.03

da série obcecada pelo horóscopo que eu mesmo escrevo mas que digo que é o quiroga

As circunstâncias desafiam sua vontade de permanecer na ordem, e talvez seja necessário você conceder espaço à desordem para enxergar melhor os ajustes que atualizariam a harmonia que, por enquanto, fica na saudade

(àqueles que acham que eu surtei de vez: reproduzo aqui esses horóscopos muito mais para me lembrar (e, futuramente, relembrar) do quando ele anda descrevendo estes tempos para mim, uma libriana, alguém que pre-ci-sa de harmonia. para alguém como eu, estar tão sem respostas, e até sem perguntas, é agoniante. então, realmente, talvez seja o caso de "conceder espaço à desordem", whatever that means...)


o que mudou?

para quem teme que tenhamos trocado seis por meia dúzia, depois de todas essas medidas do ministro malócci, digo, palocci, excelente artigo de luiz wernek vianna na folha de ontem (10.02). trechos:

Mudou o que e quanto, a ponto de desqualificar a continuação do que era entendido como o principal? Mudou a República, e mudaram seus personagens, com a multidão de homens comuns chegando ao espaço público, mobilizados pelo direito à participação eleitoral. A longa marcha da ralé dos quatro séculos, para usar a feliz expressão da professora Maria Sylvia de Carvalho Franco, o limbo sedimentado na nossa história, ausente dos seus movimentos de superfície, sempre igual a si mesmo, antes orientado pelos caminhos erráticos do "hinterland" de Serras Peladas e de todos os Eldorados, quando não seguindo líderes messiânicos como na Canudos de Conselheiro, chega, agora, à cidade.

Narrativas clássicas sobre o Brasil, como as de Joaquim Nabuco, Euclydes da Cunha, Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Holanda, com base em uma análise valorizadora da nossa história, contemplaram a possibilidade, agora diante de nós, de a sociedade brasileira encontrar o seu caminho democrático sem se afastar das suas balizas de fundação. Porque essa revolução silenciosa que aí está é rebento ilustre da marcha do processo civilizatório brasileiro. É contínua a ele, e não a sua refutação.


além de citar minha ex-ex-sogra (profa. dra. maria sylvia de carvalho franco, uma mulher realmente excepcional!), ele foi direto ao ponto. há mais na mudança de um país do que isto a que nos acostumamos a chamar de política, com um p minúsculo, de picuinhas, e coisinhas. e eu ainda creio nisto. quem viver, verá.


pode ir armando o coreto e preparando aquele feijão preto: eu tô voltando

a quem interessar possa: esta criatura que vos escreve deverá estar aportando na terra da garôa amanhã, quarta-feira, 12 de fevereiro, à noite. interesso-me desesperadamente em reencontrar os amigos. por isto, xuxu, põe meia dúzia de brahma pra gelar, ou avisa nossos companheiros do Filial que eu tô voltando!!!


10.2.03



só para embelezar a vida uma coisinha...


da série quiroga...

Ainda há muita vida para você desfrutar, não se engane a esse respeito. Se você pensa que já viu tudo e que nada de novo poderia acontecer, saiba que assim tenta convencer-se de algo completamente irreal.

(ps: eu sei que estou ficando obcecada pelos comentários para libra. mas o que fazer se eles têm -mui misteriosamente- calado tão fundo? uma pergunta não quer calar, contudo: tem algum outro libriano aí se identificando profundamente com o quiroga por estes últimos dias, ou realmente é só pra mim que ele escreve?)

(ps. do ps: bem, pelo menos, daria um bom personagem de filme, uma pessoa obcecada pelo horóscopo, que somatiza tudo o que lê. quem sabe?... )


9.2.03



friends
(agora eu vou cruzar a linha do brega! feio!!!)

so, no one told you life was gonna be this way?
the job's a joke, you're broke, your love life's D.O.A.?
it's like you're always stuck in second gear?
but when it hasn't been your day, your week, your month or even your year:
i'll be there for you (when the rain starts to pour)
i'll be there for you (like i've been there before)
i'll be there for you ('cause your there for me too)



7.2.03

carlos

hoje, ela está imperdível, em seu diálogo com carlos


it's a long way (ou: it's a long and winding road)

we're not that strong, my lord
you know we ain't that strong


tem dias em que o mundo parece querer demais da gente...
(...suspiro...)


samba da despedida

amigos fortalezenses: hoje à noite, no ritz café, no entorno do centro dragão do mar, haverá um sambinha amigo, conhecido de muitos, com nossos amiguinhos do grupo madame não dança. àqueles chegados num samba de raiz, num samba de mesa, num samba de roda, num partido alto, e, enfim, em sacodir as cadeiras ou simplesmente levantar os dedinhos e cantar um ou outro verso sensacional de cartola, zé ketti, paulinho, zeca pagodinho, noel, chico buarque, beth carvalho e outras criaturas abomináveis, fica aqui o convite.

e, claro, lembrando: o evento servirá como despedida desta que vos escreve. haverá uma cervejinha amiga em algum desses dois bares do dragão, antes do samba, que começa por volta da meia-noite: no amicis (na parte de cima, onde tem as mesas de sinuca e afins) ou no bom e velho avião, aquele botequim no meio da praça. compareçam e façam uma blogueira desterrada mais feliz...


da série quiroga...

Para quem decide viver, é inevitável cometer alguns erros e arrepender-se. Contudo, você faria bem em permanecer o menos tempo possível no arrependimento, e compreender que a experiência é fundamental.

é fácil falar... difícil é entender que você estar passando pelos piores momentos da sua vida é fundamental... (o pior é que eu concordo. muito embora espere, com toda a minha esperança, que demore muito até vir outro como este...)


5.2.03

mind games

definitivamente: enough messing with my head! eu nunca passei por uma situação que desafiasse tanto a crença na minha própria estabilidade mental. alguém aí fora já se perguntou, de verdade, diante de uma situação muito, muito, muito confusa, que contrariava toda a sua visão de mundo: meu Deus, será que eu enlouqueci? (por favor, testemunhos, testemunhos, todos os possíveis, eu peço.)

sim, porque, desta vez, eu perguntei. pela primeiríssima vez ao longo destes 27 anos e 4 meses, eu realmente me deparei com a possibilidade de tudo, absolutamente tudo em que eu acredito não ter nada, absolutamente nada a ver com a realidade. e, bem, sendo, convictamente, uma materialista dialética, não acreditando na dualidade cartesiana corpo-mente, negando fervorosamente a linearidade dos processos e crendo, acima de tudo, no mundo como um sistema dinâmico e complexo, e na semiose como real processo de comunicação de-com-para o mundo, por um (longo) momento, pela primeira vez, eu achei que havia pirado.

aqui, eu não estou falando apenas do acontecido, não. é de toda uma "cadeia" de fenômenos (não, "cadeia", não, que pressupõe linearidade. rede. rede de fenômenos é melhor), desencadeada por um fenômeno específico, que te soterra, te surpreende e desafia tudo o que você (achava que) entendendia do mundo. eu já usei a metáfora e repito, muito embora tenha lá minhas dúvidas se alguém vai, de fato, entender: é como se, de repente, a lei da gravidade "falhasse". neguinho chegasse para você -com grande representatividade do famigerado senso comum, essa coisa abominável- e dissesse: -não, rapaz, esse negócio de lei de gravidade não é assim, não. tem horas em que ela falha e não adianta tentar prever quando, como, onde. relaxa, isso é normal... e, uma vez que tudo o que a gente faz na vida depende desse princípio, da atração dos corpos pelo campo gravitacional da terra (para os terráqueos, é claro!), que a gente vive mais ou menos tranqüilamente, sabendo que, a menos que um evento extraordinário aconteça, não, a gente não vai sair flutuando de repente, se chegarem para dizer que as coisas não são bem assim, das duas, uma: ou você ri da cara do sujeito e segue tranqüila e levemente grudado ao chão, ou você fica sem saber como viver...

pois bem: a força para sair deste rodamoinho é entender o que aconteceu à luz do que eu realmente creio. entender, aqui, significa descobrir onde é que tudo isso cabe na minha tão cara visão de mundo, que me possibilite até refiná-la, quem sabe, mas sem -pelo amor de Deus!- contradizê-la completamente, ou eu fico, quase que literalmente, sem chão. isto não implica me iludir, forçar a barra para fazer caberem os fatos nas teorias. não, e como eu detesto isto. ao mesmo tempo, não quero me deixar vencer pelas diluições do senso comum, por maior quórum que ele tenha. entender, neste exato momento, é mais ou menos como ser um pré-socrático soterrado pelo senso comum. é olhar para um fenômeno que desafia o princípio mais fundamental da (sua) realidade e pensar: deve haver uma explicação. nem recorrer a crendices -inventar e crer em seres sobrehumanos que brincavam com a vida no mundo terreno, como na mitologia grega-, nem chutar o pau da barraca e dizer, é, nêgo, este mundo não tem a menor lógica, e levar a vida em espasmos acríticos, adotando uma arbitrariedade para cada categoria do seu cotidiano.

elaborar os processos desta rede que me envolve há quase dois meses (mas que não começou nela e muito menos nela termina) tem sido uma experiência ineditamente rica. entre várias outras coisas (e aqui, tenham certeza, o jogo do contente fica por conta das drogas pesadas que ando tomando alegremente, mas apenas por enquanto, que o caminho é para o alto, e avante.) nestes dois, três últimos dias, achei que, realmente, havia enxergado uma luz mais forte. a custa de muita elaboração -há testemunhas- consegui fazer a minha lei da gravidade -materialista, dialética, complexa, semiótica- felizmente persistir, mesmo sem poder ter explicado tudo, mas esta nem é a questão. e, como havia dito: o que não me matou, me tornou mais forte.

hoje de manhã, num desses eventos infelizes em que, quando você percebe, já está no olho do furacão (meio como a discussão de mesa de bar sobre minha vida pessoal, mas infinitamente pior), quase que tudo volta à estaca zero. está me custando uma força descomunal apagar este incêndio, mas acho que estou conseguindo. daí, a real necessidade de fechar o ciclo e começar outro. enough with the mind games! semana que vem, sem nenhum adiamento, aporto em são paulo: volto à minha casinha, ao meu querido roomate, aos nossos víverens e conversas noite a dentro, à nossa caríssima e amada cumplicidade, ao meu querido filial, a todos os amigos paulistanos, desterrados ou não, às médias-com-pão-na-chapa das adoráveis e infinitas padarias, à minha cama de casal, ao meu computador...

se eu queria um roteiro para filmar, agora, consegui. já tinha, como bem disse fígaro, um ótimo roteiro de sitcom. agora, quem sabe, eu mudo de gênero: de friends a will & grace, passando por ER (viva as drogas controladas!), CSI (tantas pistas que eu tive que analizar!) e chegando, quem sabe, a seinfeld, que nossa vida talvez seja mesmo uma grande piada non sense!!!

alguém entendeu alguma coisa?


4.2.03

eduardo master

era pra ser uma conversa e, aos dois minutos do primeiro tempo, virou uma aula de cinema. o pessoal tinha armado uma verdadeira entrevista com o sujeito: chroma-key, iluminação, estúdio, o caralho de asas. na hora em que ele viu aquilo ali, mandou, muito tranqüilamente: - pô, mas a gente tá conversando... se você tá conversando com uma pessoa e pede pra ela sentar de frente pra uma câmera, luz, todo mundo lá do outro lado, aí não dá certo, ela não vai falar mais nada!... bem feito, quem manda querer fazer justamente com o eduardo coutinho o que nem ele faz com os entrevistados dele?...

sim, sim, do nosso lado, tínhamos esta desculpa: era uma conversa -tranqüila e informal- com ninguém menos do que o eduardo coutinho. estávamos nervosos, óbvio, mas ele deu a melhor lição e tratou tudo com grande simplicidade, e talvez tenha sido exatamente isto o que me fez rastejar para fora da minha ostra de timidez e encarar a situação da melhor maneira possível, da maneira como ele próprio explicou, encara seus trabalhos: -é entender a razão do outro, sem lhe dar razão.

queria ter levado minha câmera, ter me permitido uma tietagem, botar a foto bo blog e o cacete. não fiz. tudo o que ouvi, ou, muito mais importante, o diálogo que tivemos ali vai ficar ecoando na minha cabeça por muito mais tempo. eu acabei fazendo a maioria das perguntas, o que é um fato praticamente inédito, dada minha timidez patológica sob essas circunstâncias. quero crer que foi pelo momento único de rara cumplicidade que se gerou entre nós ali, a minha real e apaixonada curiosidade sobre o que ele faz, a minha real e apaixonada vontade de entender o que eu quero fazer, a real e apaixonada relação que ele tem com o cinema que faz.

pode também ter sido efeito das drogas tarja-preta que eu ando consumindo, mas até aí, tudo bem. foi a melhor aula de cinema que já tive. e talvez, até mais do que isto. viva o recomeço da vida.


3.2.03

da série quiroga...

É imperioso que você renasça das cinzas daquilo que se acostumou a chamar de "sua vida". De fato, ela não mais existe, é apenas uma reminiscência. A morte não é tragédia, é oportunidade de transformar tudo em algo melhor.

eu não digo é nada!


iluminação

gosto mais do ditado em inglês, what doesn't kill you, makes you stronger, do que de nossa versão brasileira glutona, o que não mata, engorda. este, aliás, eu passei muito tempo pra entender de verdade, e acho que isto só aconteceu quando fui apresentada ao primeiro. mas, enfim, o que não te matar, te deixará mais forte, de um jeito ou de outro. se for verdade, este é o momento para descobrir.

hoje, dei a primeira chance da minha vida à yoga. ashtanga, uma variação mais power da hatha yoga, para aqueles que, como eu até hoje de manhã, precisamente ate às 7h45, entendem lhufas disto. conclusões preliminares óbvias: eu tenho a flexibilidade de uma barbie, daquelas mais antigas. enconstar as palmas das mãos no chão com as pernas esticadas? nem pensar. felizmente, o caminho não é por aí, foi o que eu comecei a aprender e, devo dizer, boto fé. se o negócio é, através da consciência corporal e espiritual, conseguir controlar a mente, esvasiando-a de todo pensamento, e ir se concentrando até chegar à iluminação, à união com a energia do universo, eu tô dentro. e, de fato, enquanto você está ali, pensando em como por a planta do pé direito num canto, a do outro, noutro, contraindo alguns músculos, alongando outros e respirando de um jeito muito específico, meu amigo, se você conseguir pensar em outra coisa, por favor, venha escrever minha dissertação pra mim que você é um gênio!

pois então, se o que não me matou me deixou mais forte, o negócio vai ser assim: para o alto e avante. rumo à iluminação (ou a qualquer estágio inferior de meditação, que já é uma grande coisa!)

(ps: agora, se alguém tem lá alguma esperança de que eu desista das drogas pesadas que consumo habitualmente -sobretudo da coca-cola-, pode ir tirando o cavalinho da chuva...)



alah está em todos os lugares

e se o júnior disser que foi ele que explodiu a columbia, aí eu voto da gente mandar internar de vez!